A pescaria
Jamais meu tio mentiria, eu muito menos. Isso aconteceu nas férias de 1969. Se não fosse verdade eu poderia até dizer que naquele belo dia, nos apenas tínhamos ido até o bosque da princesa fazer um pik-nic, e pronto. Mas não. O que vou contar é a pura verdade, nos fomos mesmo é pescar, o lanche seria somente para preencher os espaços vazios em nossos estômagos. Fomos pescar não, meu tio foi, eu fui olhar e lavar umas pobres minhoquinhas que compramos no armazém do seu Zico.
Titio naquele dia iria estrear sua nova vara de pesca, ganhado do Quinquim, era uma varinha pequena com um sininho na ponta e uma carretilha bem moderna. Dizia ele...
- Eu, meu lugarzinho secreto e essa vara... Não vai sobrar um peixe no Paraíba.
Foi pura ilusão, uma, duas, três horas com a vara nova e nada, eu com uma linhada enrolada na latinha, já tinha conseguido pegar um lambari, pequenino, mas fisguei! ?E soltei o bichinho!?. Ele então decidiu usar os apetrechos antigos, antes disso, encaixou a vara numa forquilha da árvore que nos emprestava uma fresca sombra. Logo montou seu equipamento antigo e colocou em uso, em menos de dez minutos ele pescou uns quatro peixes, só peixão. Ficamos lá por mais umas quatro horas... Pode somar ai... Ele pescou mais de setenta peixes, de tudo quanto é tamanho. Etá pescaria boa, jamais esquecerei aquele dia com o titio!
Claro que muitas pessoas já passaram por isso... Outro dia voltei para relembrar aqueles bons tempos. Passaram-se mais de trinta anos. Deus já levou meu tio e já me trouxe uns cabelos brancos...
Ah... Isso que contarei não acredito que acontece com qualquer um não!
Passadas décadas daquele lindo dia de pescaria eu decidi ir até aquele mesmo local, sentei naquela mesma sombra. Nem bem me acomodei, comecei a escutar um ruído de sino igualzinho aquele que eu já tinha escutado anos atrás, olhei para cima e lá estava ela, uns seis metros acima do que ele a tinha colocado, intocada. Tínhamos ido embora sem perceber que vara havia ficado ali amarrada na árvore, e nem demos falta.
Incrível, a linhada estava ainda lançada ali na beirinha do rio. Subi na árvore, desencaixei a vara, da forquilha que por tanto tempo a apoiou. Comecei a recolher a linha, virando lentamente a pesada manivela, que meio engastalhando e vindo aos poucos e rangendo trazia na minha mente todas as lembranças daquele dia. Um fato inusitado, inacreditável, espantoso, extraordinário, aconteceu. Um peixe, um grande peixe, era o motivo da força que eu e a carretilha precisávamos fazer para trazê-la para fora da água.
Enfim, dizem que esse peixe não existe mais no Paraíba, e pra chegar a esse peso, demoraria não menos que trinta anos. Tirando minhas conclusões, naquele mesmo lindo dia, há trinta anos, ainda pequenino, o peixinho mordeu a isca, e nela viveu por todo esse tempo. Quando conto essa passagem para os amigos, não tem um que acredita... Tiram sarro e perguntam...
Quantos quilos tinha o peixe?
De imediato eu respondo “Seis quilos tinha o bicho”.
E escuto “KKKKKKKKKKKK, essa é boa”.
Daí eu retruco... “Tinha não tem, ta lá em casa no aquário que montei...! “Alguém quer ver?”.
E a turma admirada... Hummmmmmmmmmmmmmm?.