SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?...

Sergio Pantoja Mendes

...a família Pantoja, se não estou enganado, aqui no Brasil, origina-se do norte ou do nordeste do país(Para ou Maranhão).

Alguns membros mais antighos, do ramo ao qual pertenço, contam que os primeiros "Pantojas" vieram da Espanha e radicaram-se em um daqueles estados brasileiros, espalhando-se posteriormente, por todo o país afora.

Uma parte desse ramo(ao qual pertenço), é oriundo do sul; mais precisamente, do estado do Rio Grande do Sul. De lá vieram Alcides e Conceição Pantoja, os quais foram os pais de onze filhos. Um deles, também chamado Alcides e apelidado "Xiru", era um dos ídolos familiares, de nós crianças que chegávamos; o tio Xiru...

Naquela época, as mulheres em geral e todas as crianças, não tinham participação em nenhuma decisão importante, que afetasse ou que dissesse respeito a família. Quando os homens se reuniam para conversar, mulheres e crianças, eram obrigadas a se afastar. Quando lhes era permitido ficar presente, tinham que permanecer em silêncio e só poderiam se manifestar, se recebessem permissão do chefe da casa; alguns assuntos eram considerados tabu e jamais eram discutidos. O tio Xiru, apesar disso, nos dava liberdade de manifestação e muitas das vezes, se propunha ouvir as nossas opiniões; nós o idolatrávamos, também por isso...

No início da nossa adolescência, Xiru, muito mulherengo, começou a nos falar das suas conquistas e das suas namoradas; nem todas solteiras... Um outro dos seus pecados, se assim se pode chamar, era a cerveja. Mulherengo e cervejeiro; esta mistura, sempre dá confusão...

Xiru certa vez, após passar o dia com uma namorada casada e já meio calibrado por algumas cervejas, deixou a mulher em casa e sentou-se em um bar próximo, para tomar mais uma cerveja. Lá pelas tantas, entra no bar, o "marido da namorada" e rapidamente a confusão se forma... Gritos, palavrões, rabo de arraia, pernada, tapa pra cá, rasteira pra lá e... todo mundo no distrito. O marido traído e indignado, lado a lado com Xiru, o garanhão bêbado... Nova confusão em presença do delegado o qual, após acalmar os ânimos, tomar conhecimento do que havia acontecido e confirmar que entre mortos e feridos, salvaram-se todos, resolve liberar o marido traído, o que deixou indignado o tio Xiru. Este, ainda bêbado, começa uma discussão com o delegado: -Quem o senhor pensa que é, para liberar uma pessoa que tentou me agredir, só porque eu estava comendo a sua patroa?... Está errado!... O delegado, com paciência e respeito(que naquela época, era coisa normal), retruca: -Meu senhor... eu só tentei evitar um constrangimento maior para o pobre homem; eu vou liberá-lo também, assim que o senhor melhorar da sua bebedeira...

-O quê?... O senhor por acaso está dizendo que eu estou bêbado?... eu não estou bêbado... eu estou só, levemente embriagado...

-Mas meu senhor...

-Que mais nem meio mais... o senhor liberou um homem que tentou me agredir... um homem corno... e se eu não soubesse me defender de um homem corno?... aborrecido, zangado!... o senhor sabe o que é um homem corno, seu delegado??? Sabe???

-Não meu senhor, não sei...

-Então o senhor nunca se olhou no espelho?...

Neste momento, o delegado fica vermelho, bufa duas vezes, soca a mesa e debruçando-se em direção ao tio Xiru, grita raivoso: -O senhor me respeite! O senhor pensa que está falando com quem? O senhor sabe quem sou eu?...

-Eu é que lhe pergunto?... O senhor sabe com quem está falando?... Sabe quem sou eu?... O delegado, usando sua última gota de paciência, responde quase conformado: -Não meu senhor... eu não sei nada disso... afinal de contas, quem é o senhor?... Meu tio então, dando um soco na mesa, apontando um dedo no nariz do delegado e olhando dentro dos seus olhos, grita também raivoso: -Pois eu vou dizer quem eu sou... Eu sou o Xiru Pantoja!!!...

Após um silêncio de morte, Xiru Pantoja foi conduzido ao xilindró, de onde só saiu na manhã seguinte...