O RESGUARDO DO CABOCLINHO
O rapaz já tinha uma idade avançada, morava ele e a irmã, também solteirona, em uma pequena chácara nos arredores do povoado de onde tiravam o sustento fazendo artesanatos como balaios e cestas de taquara, tecendo cadeiras com palhas de taboas e de quebra, criavam porcos e galinhas caipiras, também uma fonte de renda, pois destes vendiam os leitões, alguns capados, os ovos e frangos. Trabalho pesado nem pensar, o rapaz não gostava de pegar no pesado de jeito nenhum, assim levavam uma vida modesta.
Certo dia vendeu alguns leitões desmamados, para um pequeno sitiante da região, alias era costume dos pequenos sitiantes comprar leitões desmamados, depois capavam e engordavam e era de onde tiravam a gordura que com o tempo foi substituído com o óleo, para o preparo das refeições.
O Chico, como era conhecido, levou-o até o chiqueiro onde estavam preso os animais e ficou olhando o rapaz pegar os porquinhos para por na carroça, encabulado o homem ao ver o Chico de braços cruzados, apenas assistindo o trabalho do outro e conhecedor da fama de preguiçoso do Chico, pediu para que o ajudasse. Chico com a calma que lhe era peculiar e no seu melhor estilo de prosa respondeu:
___ Chiiii! Nun posso! O dôtor mi proibiu de fazer força, né.
O sitiante deu uma pausa no serviço e indagou o porque da proibição, foi então que Chico explicou que o medico lhe havia proibido fazer força desde que fora operado da apendicite, momento em que quase morreu se não fosse a habilidade do cirurgião. O Caboclo pasmado com o ocorridopois não estava sabendo deste acontecimento e perguntou, como de costume, se já estava melhor ao que o Chico lhe informou.
___ Ahh! Agora já to bonzinho né.
Foi então que o comprador perguntou quando foi que tudo tinha acontecido e Chico respondeu no seu jeito matuto:
___ Ahhh! Já faiz tempinho né! Já tá fazeno uns trinta anos.
E o caboclo tratou de terminar a atarefa de embarcar os porquinhos sozinho pois, o caboclo quando ama seu corpo, se cuida, ahhh! como se cuida.