Perguntar não Ofende
Uma das coisas que mais aprecio na vida é um “papo” bem descontraído, principalmente do tipo “Ping-pong”, daqueles que os interlocutores tem oportunidade de falar pausadamente, cada um na sua vez, sem interrupções.
Acontece que em Campina Grande – PB, tinha um cara que fugia completamente a esta regra, mas, que eu adorava escutá-lo. Seria capaz de dar um dia da minha vida só para ouvir suas “prosas”
Suas conversas era do tipo “Pong”, só ele falava, ou melhor perguntava, era um verdadeiro interrogatório no estilo do extinto “SNI”, não dando tempo sequer do interlocutor respirar, tamanha a velocidade que fazia as perguntas, a coisa funcionava mais ou menos assim:
- Zé, como vai a obra ?
- Bem 1
- Já compraram todo o ferro da obra ?
- Compramos !
- Quantas toneladas ?
- Mais de setenta !
- Quantos metros de brita vão utilizar ?
- Muitos !
- E tábuas ?
E por ai ia perguntando sem parar. As vezes era necessário a intervenção da sua mulher para o “cara” me deixar em paz, e . . .
- Para com isto “velho” deixas o menino em paz ?
- OH, ninguém pode conversar com Zé !
Naquela época eu estava construindo uma série de pontes no nordeste, como morava no Recife, nos finais de semana quando retornava a minha residência, passava por Campina Grande, para visitá-lo. Geralmente o palco do nosso “papo-interrogatório” era realizado nos batentes da entrada da sua casa e/ou sobre a mureta do jardin.
Estou falando sobre “Seu” Sezinio, o meu velho pai que morreu no inicio da década de 80.
Numa destas nossas sessões, estávamos sentados na mureta do jardim da nossa casa. Era um sábado a tarde, eu acabara de chegar de viagem, “Seu” Sezinio, longe da vigilância da minha mãe se esbaldava fazendo milhares de perguntas, quando se aproxima de nós um velho mendigo apoiado numa cacete. O homem caminhava com muita dificuldade, com o corpo curvado para a frente. Além da idade avançada o homem tinha a aparecia de quem estava muito doente. Meu pai vendo aquele quando comentou:
- Zé isto é uma coisa de fazer pena, porque Jesus não leva uma criatura dessas ?
O mendigo se arrastava lentamente e agora passava bem em nossa frente, meu pai olhou para ele compadecido e falou:
- Meu velho, por que você não pede a Deus para morrer, para
acabar com esse seu sofrimento ?
O mendigo com cara de poucos amigos, olha por cima dos ombros para “seu” Sezinio, e . . .
- Peça você “vei” filho da P., eu tô muito bem e não quero morrer
não !
- OH, com todos os diabos Zé, que velho mais malcriado! ! !