A ASTUCIA DO MASCATE

Salim era um conhecido turco que vivia mascateando por aquele e sertão bravio, trazia suas bugigangas em cargueiro sobre lombo de duas mulas, na realidade era três, porem uma delas servia de montaria ao mascate trapaceiro.

Aconteceu que naquele dia morreu um rico fazendeiro no sertão, era um homem de posses, suas terras perdiam de vista, porem homem mais muquirana do que ele não existia por ali, apesar de rico, vivia em completo abandono num casarão velho construído pelo pai a dezenas de anos e que igualmente a muito tempo não se fez reforma alguma para conservação tudo para não gastar dinheiro e como resultado estava caindo aos pedaços. O homem era tão miserável que nunca quis casar para não dividir seus bens com esposa e filhos se por ventura viessem, pelo contrario, de posse da herança em dinheiro deixando por seus pais, comprou a preço de bananas a parte que caberia a sua irmã, ficando assim dono de todas aquelas terras e embora com muito dinheiro guardado cuidadosamente no colchão, tradição que herdara também do velho pai, vivia sujo e maltrapilho como se mendigo fosse.

Com o seu jeito estúpido, nem os moradores mais próximos vieram para o velório, ao final do guardamento, nenhum parente se fazia presente pelo motivo de que o velho muquirana fez correr no bairro o boato que em testamento ordenou que quando morresse, todo o seu rico dinheirinho seria colocado dentro do caixão e enterrado juntamente com seu corpo, isso causou a revolta da irmã e dos sobrinhos, assim a sala estava vazia, praticamente o representante do cartório que fez a leitura do testamento, meia dúzia de homens muito simples, todos seus agregados e responsáveis por conduzir o ataúde contendo o corpo até o cemitério para o sepultamento e o mascate Salin, mas foi quando se preparavam para fechar o caixão, o mascate que presenciara toda a leitura do testamento e estava desolado ao ver que toda aquela dinheirama que seria carcomido pelos vermes, teve um súbita idéia e gritou com os humildes serviçais:

__ Isbera! Isbera um pokinho! Salin ta brecisando, o finado num importa se Salin trocá um chequin. Finado gente boa e chequin de Salin bom tamem, é dinhero no algibeira.

Retirou do bolso o talão de cheque, preencheu no valor do testamento e retirou o dinheiro do caixão, depositando em seu lugar, a folha de cheque e comovido, acompanhou o falecido até sua derradeira morada.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 25/05/2011
Código do texto: T2993268
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