O "Sô Giovanni"

O Sô Geovanni

Às vezes para valorizarmos nossa própria vida temos que visitar o habitat do outro.

O senhor Geovanni é um senhor aposentado na agricultura e que já estudou os filhos. Um herói. Mais de uns tempos para cá ficou mandrião depois que seus filhos lhe deram um carro zero. Arrendou as terras que lhe deram tanto trabalho; fez vender a última herança de seus pais que ainda era em comunhão com outros irmãos; colocou o dinheiro na poupança e foi viver a vida. Dia desses, na porta de uma clínica veio “prosiá” comigo.

- Mais Zé, num pode estacionar aí não!

- Mais Sô Giovanni donde apareceu tanto carro?

- Cê tá me lembrano umas história minha.

- O que foi?

- Meus fio mora em BH e pelo uma vez por mêis eu apareço por lá.

- ...

- Um dos trem que gosto de fazê lá é ir no Mercado Central tomá shoopp. Na última vêis meu fio acordou tarde e quando cheguemo lá o estacionamento mais perto que achemo foi a quinze quarteirões de distância. Fomos no Mercado, tomemo dois shopp cada um e quando cheguemo no estacionamento me deu vontade de mijá que tive que andá mais uns trêis quarterão pra achá um dono de buteco disconfiado me dano uma chave dizeno que o vaso tava istragado pra um serviço mais pesado mais se consumisse arguma coisa... Tomei uma pinga proque a vontade de mijá era grande e não pudia perdê a cumpustura. Quando cheguei no estacionamento no décimo andar tava uma bagunça danada proque um cara tonto num carro véio foi dá uma ré e acertou um carro de Grã fino. A pulícia por lá fazeno ocorrência e lá foi mais umas trêis hora pra liberá a discida daquele tobogã de carro. Quando cheguemo na rua cumeçô chuvê cum força! O trânsito parou! Cheguemo em casa já era madrugada!

- ...

- Programão, num acha?

- Num intendo, sô Giovanni...

- O quê?

- Ocê quesse vidão aqui na cidade, vai cherá o quê lá nas BH?

- Uai rapaiz. A gente véio e aposentado vai levano nossa vidinha mais tem hora que a gente fica meio injuriado, sem o que fazê...

- Mas lá no Mercado Central para se tomar um shopp tem que ficar com ele no rumo do nariz senão alguém derruba...

- Puis era isso queu quiria falá...

- ...

- Cê pricisa vê minha alegria quando tô vino imbora... Desço a Fernão Dias como se estivesse indo para o céu...

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 14/05/2011
Código do texto: T2970228