TUDO POR UM TRAGO DE CACHAÇA

Os matutos da roça já diziam em seu linguajar caboclo que a pinga acaba com a dignidade do homem, destrói a família, o ser humano e por ultimo o próprio corpo e e sempre dizem que o homem fraco para a bebida acaba perdendo o restinho de vergonha na cara quando se depara com a possibilidade de tomar uns tragos da danada e não é que os antigos sempre tinham razão.

Dois caboclinhos viviam como que isolado do mundo vivendo muito retirado do povoado, aonde iam raramente para comprar o estritamente necessário para sobrevivência, apesar das circunstancias os danados eram malandros como eles só e não se separavam um do outro de jeito nenhum, tanto é que até o casamento deles foram realizados no mesmo dia, como nem tudo dependia da amizade entre os dois, a mulher de um dele engravidou e certo dia amanheceu com o desejo de comer lingüiça calabresa. Como dizia os antigos que desejo de mulher grávida é coisa séria, se não for satisfeito a criança pode nascer com as marcas do desejo, o rapazote ficou apavorado e agora, onde arranjar a tal lingüiça calabresa? O negocio era procurar na venda do povoado, assim chamou o outro companheiro e em pleno dia de semana deixaram a roça bem cedinho e foram para o povoado, com apenas alguns trocados nas algibeiras, o suficiente apenas para comprar as tais lingüiças.

Ao chegarem no povoado, foram ao único açougue existente e lá encontraram as lingüiças e o caboclinho adquiriu quatro gomos da dita cuja empatando todo seu recursos na aquisição do objeto de desejo da esposa grávida. Permaneceram mais um pouco no lugarejo e com aquela agitação toda sentiram uma vontade doida de tomar umas e outras, porem agora estavam sem nenhum tostão nos bolsos e credito para comprar fiado isso era coisa que eles não tinham, pois as raras vezes que apareciam no povoado, eram escorraçados por conta de suas malandragens, sem vergonha como eram então matutaram uma forma de tapear os vendeiros e assim surgiu abrilhante e exótica, ou por que não a erótica idéia surrupiar gratuitamente algumas doses da branquinha.

Colocando a lingüiça calabresa por dentro da roupa, na altura da braguilha da calça, os caboclinho entraram no primeiro boteco, pediram um dose de cachaça, tomaram a danada estalando os beiços, fizeram um pouquinho mais de hora ali e pediram outra dose, o que foi suficiente para o dono do estabelecimento ficar de olho nos malandros, apos a terceira dose, o caboclinho que estava com a lingüiça, puxou-a para fora da calça e o outro se ajoelhou em sua frente e deu um beijo na dita cuja, ao ver aquele aparente ato obsceno, o dono do botequim nem prestou atenção que era a lingüiça calabresa e mais que depressa escorraçou ambos do estabelecimento, nem sequer importando com o prejuízo das doses de cachaça, o importante era se ver livres dos depravados.

Pois não é que deu certo o plano, agora podiam tomar todas sem pagar um vintém sequer e assim fizeram no segundo, terceiro, sendo que no sétimo e ultimo estabelecimento já estavam embriagados a ponto de um se apoiar no outro porem era preciso tomar a saideira e adentraram também neste boteco de onde também foram expulsos aos safanões antes mesmo de pedir a danada.

O negocio foi tomar o rumo de casa, após caminharem algumas centenas de metros, embriagados, o dia já se findando, bateu uma fome danada, foi quando o caboclinho lembrou da lingüiça que o outro havia comprado para a esposa grávida e que guardara dentro da roupa, um pedaço da dita cuja viria bem a calhar e tinha certeza que o amigo não lhe negaria um gomo da dita cuja mas ficou pasmo quando ouviu a resposta:

___ Lingüiça! Mas que lingüiça sô? Perdi a bendita na correria do primeiro boteco, sô!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 04/05/2011
Código do texto: T2949222
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