COMPARTILHANDO O PRESENTE
Se nenhuma duvida, aqueles eram tempos diferentes, sem a tecnologia de hoje sem as modernidades, sem a televisão, sem o radio, a vitrola só ouvia falar e assim o povo da roça vivia feliz perdido na imensidão do sertão. A cidade iam raras vezes ao ano, entre estas, a semana santa e sobretudo o dia de finados esse sim era especial, um dia em que a cidade recebia maior numero de pessoas, todos iam visitar os entes queridos que já haviam partido desta vida pra melhor.
Era bonito ver o movimento e pelas estradas que conduziam ao pequeno povoado, eram cavalos e cavaleiros, carroças e charretes iam e vinham, algumas pessoas caminhavam a pé e outros pedalando suas bicicletas. No caminho que levava ao cemitério, vendedores ambulantes vendiam de tudo, doces, algodão doce, pipoca, melancia, vela, flores e até livros e gibis assim, apesar do dia funesto, era uma verdadeira festa, a partir de um determinado ponto não se podia trafegar veículos nenhum, todos caminhavam e pareciam formigas, homens adultos, rapazes bem trajados, senhoras respeitadas e mocinhas todas protegidas do sol por uma sombrinha, equipamento indispensável ás donzelas que alem de elegante, mantinham a tez mais corada pelos reflexos das cores, uma bela imagem de se ver naquele ermo de deus.
Naquele tempo já se ouvia falar do desquite e do divorcio, mas a família era consistente e os poucos rompantes de libertinagem eram logo rechaçados e não tinha aceitação do matuto, no ambiente familiar o pai era sinônimo de obediência, bastava um olhar e o recado estava dado, fosse criança, adolescente ou jovem de ambos os sexos, o pai e a mãe impunham respeito.
As poucas visitas que a família recebia era por conta do chefe da casa, as crianças geralmente se mantinham fora do ambiente da visitas, as vezes até alongada no quarto ou brincando no terreiro e só compareciam na presença da visita se chamada pelo pai ou pela mãe, foi assim que certo dia os pais de Izinha receberam a visita do compadre, o padrinho da menina, uma pessoa de bom poder aquisitivo, um promissor comerciante de uma cidade vizinha que naquele dia resolveu fazer a visita a afilhada que na época tinha lá seus sete anos de idade pra mais, após os compadres conversarem muito, a presença de menina que estava escondida no quarto foi reclamada na sala, depois de certa relutância, atendeu o chamado do pai, compareceu acompanhada pela irmã mais nova, cumprimentou o padrinho com o tradicional pedido de bença, recebeu em troca, alem da bênção, elogias quanto a sua beleza e num relance o padrinho enfiou a mão do bolso, tirou da carteira uma nota de dois cruzeiros novinha em folha, aquelas azulzinha de um lado e amarelinha do outro, equivalendo hoje a uns cinqüenta reais, e deu de presente a menina porem observando a curiosidade da irmã mais nova e para evitar qualquer contratempo, recomendou num gesto de conciliação:
___ È pra você repartir com a sua irmã.
Isinha embora nem imaginasse o valor daquele pequeno pedaço de papel mas pelo olhar de espanto dos pais, ficou empolgada com o presente e presentiu ser algo valioso porem, na sua ingenuidade de menina, ao ouvir a recomendação do padrinho, ali mesmo na frente de todos, num relance rasgou a cédula ao meio e entregou à metade a irmãzinha.