TREJEITO DE CABOCLO
Este trejeito matreiro
Chega inte sê bunito
Costume de roceiro
Qui’nté é meio isquisito
Estava Janjão estatelado em sua cadeira preguiçosa, cachimbo de coco gabirova na boca e pensamento vagando ao ar sabe-se lá as quantas.
Na casa que mulher manda
Diz que é uma desgracera
E o amor logo desanda
Vai cai numa pasmacera
Os dois cães vira lata, amigo inseparável do caboclo da roça, estavam deitados ao lado do patrão, levantaram o focinho para o ar denunciando algo de estranho se aproximando e mesmo sem ver, saem em disparada fazendo o maior banzé o suficiente para trazer Janjão das nuvens, coisas bestas essas, imaginou o caipira filosofo, com a resposta na ponta da língua caso alguém tenha escutado seus pensamentos:
Num acredite meu amigo
No que diz este ditado
Isto é coisa dos antigo
Hoje o mundo tá mudado
E Chegou Zelão, uma trouxa de roupa na mão, era sozinho o pobre coitado, sem uma esposa para cuidar de seus pertences e desde a morte de Sinhá, sua bondosa mãe, nessas horas tinha que recorrer as costureiras do bairro, Dona Zefinha, mulher caridosa cuidava tão bem de suas roupas, remendava, fazia as barras, apertava ou alargava os cós, pregava botão, mas se mudou pra cidade, alias, coisas esquisitas estavam acontecendo no sertão, todos estão se debandando para a cidade e deixando a roça deserta, ainda bem que dias desses veio para estas paragens uma nova costureira, Dona Zenaide esposa de tal Janjão, e o negocio foi procurar pelos préstimos dela, mas é o marido que o recebe a porta da choupana:
Se assente um poquinho
Que a patroa já vem já.
Não resorvo isto sozinho
Ela que tem que opiná
Zelão parecia receoso, afinal de contas teria que tratar de assuntos de trabalho com a esposa de Janjão, pra ele praticamente um desconhecido e a bem da verdade, um caboclo um tanto quanto esquisito. Janjão percebe a timidez do freguês.
Cá em casa é memo assim
Não aceito que se mude
Ela não manda nim mim
Num tem esta atitude.
Silencio entre os dois e com receio de que o pobre Zelão tivesse uma má impressão de sua pessoa, em seguida justifica o seu trejeito caboclo, deixando transparecer a sua autoridade de marido, afinal de contas, deve ser dele a decisão:
A urtima palavra é minha
Não importa o que vai sê
Já to indo linda rainha
Pra pode lhe atendê
Apesar de tudo ao caboclinho acabrunhado, pede calma
Por isso meu amigo
Não estranhe este trejeito
Uma coisa porem lhe digo
Aqui ha muito respeito
Zelão esboça um sorriso nos lábios, sinal de tranqüilidade, Janjão complementa:
Obedeço o que ela fala
Porque tem lá suas razão
No entanto ela se cala
Quando tomo posição
Afinal de contas, não tem nada a temer, assim viveram uma vida bem vivida.
Esta é a vida deste caboclo
Homem rude do sertão
E do amor não faz pouco
E o traz em meu coração
Por anos e anos, criaram seus filhos, apesar das crises conjugais vividas nestes anos todos
São anos de convivênça
Nesta vida de casado
Temos nossas diferença
mas com amor é superado
Só o amor constrói um lar, casamento é um compromisso serio que começa aos pés do altar de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
Pelo bem querê nos unimos
Pra formação dum belo lar
Um compromisso que assumimos
La defrente dos altar
Os minutos de espera pareceram um século de demora, mas eis finalmente a Dona Zenaide, a nova costureira, Zelão também um caboclinho um tanto quanto atrapalhado, apresenta o serviços a mulher que observa peça por peça, e depois dá seu orçamento que é aceito de imediato pelo freguês, marcada o dia da entrega, se despede e vai embora pensativo, pois não é que esse tal Janjão não lhe pareceu uma má pessoa, simpatizou com o trejeito caboclo do novo morador do bairro.