ACONTECEU NUMA FESTA NA ROÇA
O sertanejo, apesar da sua rusticidade, é um homem de muita fé e trás embutido em sua alma a necessidade de festejar o seu santo protetor e entre os roceiros daquela localidade era forte a devoção a São Sebastião, tido como protetor dos agricultores, lavradores e pecuaristas, a base da sobrevivência neste fim de mundo, não mediam esforços portanto, para homenagearem o santo protetor e com muita alegria, louvar e bendizer o Deus criador do céu e da terra por tantas bênçãos da qual eram portadores.
É no inicio do ano que o santo mencionado é festejado assim, cada ano, um dos sitiantes assumia o compromisso de coordenar a tal festa, sendo que o compromisso na realidade pertencia a todos do bairro e adjacências, cabendo ao festeiro apenas a doação do espaço para que a festa tivesse inicio, pois a festança geralmente terminava na Capela de São Sebastião daquele populoso bairro.
Meses antes da data marcada para a festa, já começavam os preparativos para a realização de tal evento, eram indicados festeiros no bairro e nos bairro vizinhos, colaboradores encarregados de convidar e arrecadar prendas para o santo, sabendo disso os moradores da localidade sempre reservavam um donativo para a festa, os sitiantes maiores geralmente doavam bezerros, leitoas e os arrendatários e meeiros e sitiantes menores, geralmente de menor poder aquisitivo, frangos, bolos ou alguma medida de cereal, Estas prendas eram leiloadas no dia da festa e os valores levantados eram utilizados, em primeiro lugar para as despesas do festeiro do bairro e o restante disponibilizados pela comissão administrativas da Capela para a manutenção reforma e construção de benfeitorias e ainda, serviam de ajuda para as próximas festas.
Motivados pela fé, os agricultores viam neste donativos uma forma de agradecer o Santo por sua intercessão junto ao criador, proporcionando boas colheitas e saúde de suas criações, na historia do povo não eram poucos os causos de pessoas que duvidaram do poder de proteção deste santo e que por conta disto foram castigados, perdendo colheitas por anos a fio, doenças no gado dizimando rebanhos inteiros e até a natureza se vingando pois não são poucas os fatos contados pelos matutos, de raios caindo nas invernadas matando muitas cabeças de gado e vendavais e chuvas de granizo que vieram destruir lavouras, episódios sempre ligados a pessoas que desprezaram estas tradições. Por esta e outra, os donativos sempre eram tirados dos melhores animais da pasto ou da melhor qualidade possível, pois lembravam sempre do que disse o profeta Malaquias ao alertar os infiéis pelo fato de doarem animais defeituosos para serem sacrificados ao Senhor Todo Poderoso e pergunta: Se oferecerdes um animal defeituoso aos seu governador, será que ele ficará contente?
No dia da festa o movimento de pessoas era grande na casa do festeiro, lá serviam a vontade doce das mais variadas espécies, entre os quais, doce de abóbora, de mamão, de batata doce, de cidra, de laranja, todos doces caseiros feitos nas semanas que antecedem a festa.
Foi numa destas festas um caboclinho muito conhecido da região, após comer uma boa porção de cada espécie de doce, tendo se empanturrado, se acomodou num canto do empalizado, grande cobertura rústica feita com estrutura de bambus e coberto por lonas para proteger do sol ou da chuva as mesas de guloseimas e o povo, permanecendo ali calado o que não era do seu feitio. O Dono da casa vendo-o quieto num canto, sabendo ser ele um devorador de doces nas festas do bairro, achando estranho tal comportamento, chegou até o rapaz e o convidou:
___ Homem de Deus, se achegue mais, vem comer doce.
Ele agradeceu o convite:
___ Não Obrigado, já comi uma porção de cada tipo.
E ainda se justificou:
___ Sou de pouco doce!