OS APUROS DE UM SACRISTÃO

Era festa da Padroeira da Cidade, a festividade religiosa incluía uma procissão pelas ruas daquele lugarejo que neste dia tão especial, recebeu a visita do reverendíssimo senhor Bispo e o seu padre, preocupado em mostrar serviço, programou uma longa procissão em comemoração a Nossas Senhora, padroeira da Paróquia sendo que ao sacristão caiu a tríplice incumbência de direcionar a procissão, rezar o Rosário e puxar os cantos tradicionais alem de procurar passar pelo maior numero de ruas possíveis daquele pacato lugarejo e assim o fez.

A Procissão corria a solta pelas ruas da cidadezinha interiorana, na frente ia o sacristão, carregando a cruz e puxando o terço e um hino em louvor a Nossa Senhora, um pouco mais atrás seguiam o Padre, O Senhor Bispo, os coroinhas carregando as velas, depois o andor enfeitado com a Imagem da padroeira, carregado pelos fiéis em revezamento e que era seguido pelo povo que iam rezando e cantando, sempre orquestrado pelo sacristão. A cada mistério, um Pai Nosso, Dez Ave Maria, um Gloria ao Pai, o João Fogueteiro ao lado soltava um rojão de três tiros retumbavam fazendo eco no vale e o sacristão puxava o canto conhecido pelos fieis:

Louvando a Maria, o Povo fiel

A voz repetia de São Gabriel

Ave, Ave, Ave Maria ...

E assim a procissão seguia, o sacristão conhecedor do roteiro, sobe por uma rua, desce por outra, quebra a direita, vira a esquerda e todos imbuídos na reza nem percebe quando a procissão passa em frente a uma velha casa conhecida do sacristão e mal falada pelas mulheres de família do lugarejo e lá estava ela um tanto descomposta, sem nada por baixo, despreocupadamente e mostrando toda sua vergonha, a Maria, conhecida prostituta do lugarejo e o sacristão logo observou tudo mas não havia como abandonar o serviço para alertá-la da passagem da procissão, afinal era um compromisso muito sério que havia assumido, era o momento de puxar o canto.

Louvando a Maria, o povo fiel

A voz repetia de São Gabriel

Ave, Ave, Ave Maria ...

A mulher parecia alheia a tudo aquilo, o sacristão que não tirava os olhos daquela visagem, num improviso, deu o recado:

Oh Dona Maria, por nossa Senhora

Abaixa esta saia, co’ a bunda de fora

E os fieis enlevados com a procissão nem se deram conta da gafe do Sacristão, respondendo com bastante fervor

... Ave, Ave, Ave Maria

Se aquela Maria entendeu ou não, foi impossível ficar sabendo, porem ao ver a procissão se aproximando, levantou e para felicidade do sacristão, tudo se arranjou.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 09/04/2011
Código do texto: T2899251
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