UM CABOCLINHO MUITO VAGABUNDO
Era um caboclinho conhecido dos moradores do povoado e a sua fama de preguiçoso não era novidade para ninguém, sempre que o assunto debandava para lado do trabalho as desculpas fervilhavam espontaneamente, tanto que o povo até admirava a sua criatividade, parecia mais um repentista do que um caipira do campo. Não era um caboclo de ficar rodeando botequins, se encharcando na cachaça mas trabalho não fazia o seu feitio, levantava já com o sol a pino e ficava de um lado para o outro zanzando no terreiro do velho casarão de madeira caindo aos pedaços em que habitava ele e sua família formada pela esposa e sete filho, uma escadinha como diziam na roça, com a diferença de aproximadamente um ano entre um e outro. Na parte da tarde a sua obrigação era ir para os rios e ribeirões da região pescar, alias, a única fonte de alimentação para a sua numerosa prole. Assim vivia o homem que se mudou para o vilarejo a procura de emprego mais que passou maior parte do tempo fugindo dele.
Naquele ano o caboclinho deixou o povo de queixo caído pois, para surpresa de todos, arrendou umas terras de um sitiante do lugarejo onde plantou uma pequena roça de milho, teria por ventura o homem regenerado? Mas qual o que, foi só fogo de palha, plantou a roça com ajuda da esposa e dos filhos mais velhos mas a preguiça foi tanta que não cuidou da plantação. O tempo correu bem e a lavoura, apesar de mal cuidada, até que lhes renderia alguns trocados.
Chegado o período da colheita, lá foi o seu caboclinho, as esposa e os filhos para a colheita do milho. Era pouco mais de duas horas da tarde, a esposa aparece aos prantos no povoado dizendo que o marido tinha sido ofendido por uma cascavel, cobra venenosa e abundante na região.
O povo simples do povoado, comovidos com a aflição da pobre mulher, imediatamente providenciaram meios para socorrer o homem que segundo ela, estava debaixo de uma sombra la na roça, tudo para não se esforçar e espalhar o veneno pelo corpo, cuidados difundidos na cultura do povo daquela lugarejo.
Passados talvez meia hora ou um pouco mais, o automóvel do chofer de praça para em frente a farmácia do vilarejo, único pronto socorro naquele ermo de Deus, lá vem o caboclinho, todo melindroso, reclama de mal estar geral, diz estar com as vistas turvas, o dono da farmácia muito atencioso ajuda o chofer a levar o paciente a um local reservado no estabelecimento onde pode examinar e conversar mais tranqüilamente com o paciente que explica como tudo aconteceu nos seus mínimos detalhes, pois era um proseador nato.
Ao verificar o local do ferimento, o farmacêutico observa na perna do caboclinho apenas um pequeno e insignificante arranhão e não se tratava com certeza de picado do animal peçonhento, mas devido o nervosismo do paciente, prepara-lhes um medicamento a base de calmante e por precaução deixou-o em observação no estabelecimento onde, em caso de piora do quadro, aplicaria o soro antiofídico que graça ao seu esforço, possuía em seu estoque.
O Caboclinho dormiu até a boca da noite, depois foi para casa mais sossegado, o susto passou mas ele não voltou mais na roça, alguns dias depois como de costume, ele foi rodear a venda do povoado e os velhos amigos lhes perguntaram do ocorrido, ele dramaticamente, contou tintim por tintim, sem esquecer de um só detalhe, chegando a mencionar que chegou a ver a morte batendo em sua porta porem, quando indagaram sobre a colheita, ele, categoricamente respondeu
___ A roça? Lá eu não coloco mais os meus pés, aquilo esta infestado de cobras e digo mais, prefiro andar pelos brejos, atrás de uma boa pescaria do que trabalhar, eu tenho amor a vida e sete filhos pra criar.