Jogo da vida

Acendem-se as luzes e entram em campo os jogadores...

Gladiadores escalados dos dois times amadores. O campo é improvisado, já adianto aos ouvidores. A arquibancada é precária e não distingue faixa etária. Quem controla a entrada é o “Pirriu” da madrugada, que pra uma grana extra, fez um bico nessa festa.

Na comunidade, a peleja para a cidade... Até a igreja se permite suspender a caridade! Vem olhar muito de perto o grande encontro que é por certo. Além de conferir gesto que é esperado, a famosa benzedura pra ninguém ficar lesado. Claro que a população cancela toda obrigação. Reza a lenda na cidade que não tem privacidade, nem que fosse a santidade toda envolta em oração!

Retornando sem demora que é o que importa nessa hora: o jogo tão esperado! A tensão é de morrer: os nossos adversários não sabem o que é perder; não tomam tento faz um bom tempo! Arre time asqueroso e nojento! Que dureza ao nosso povo, que tristeza... Que fogo!

Mas o que era uma sina de que o nosso time afina acabou-se neste dia. Ninguém ali sabia que esse jogo tão festeiro vendido tinha sido a grande soma em dinheiro. Inimigos que eram em campo, como que por um encanto, trocaram a inimizade pela tal cumplicidade. Assim sem lero-lero logo estava um a zero pro azarão dessa cidade; Dois três quatro em meio tempo sem tomar conhecimento emplacaram a goleada. O goleiro do outro lado nem fingira desolado rindo-se desenfreado à danosa emboscada.

De aplausos no início tudo virou um suplício ao jogo que desenrolava. Até que o povo num instante indagou-se de um relance:

- Porcaria de embate! O outro time num dá arremate?

Por um lado meio incerto certo foi à indagação: o time da cidade não tinha imaginação. Jamais conseguiria faturar sequer um tento; era tão ruim e perderia se jogasse até com o vento. Já o time do outro lado deixou o povo embasbacado! Como é que pode isso, um time inteiro todo omisso? Não tardou a começar um fedelho estardalhaço: nesse mato tem coelho! Não me façam de palhaço!

De súbito então, num segundo ou fração, deu início no local uma tremenda confusão. A torcida enfurecida pulou o alambrado, questionando decidida, ao juiz que foi escalado:

- Ô moço, que é esse papelão? Esse jogo tem lisura? Qual a tua opinião?

- Não posso dizer nada, pois só apito essa pelada. Peço calma no momento pra ninguém ter ferimento!

Partiram então pro lado do prefeito assustado; cobraram uma atitude com respeito e amiúde. Ele não se esquivou e bradando declarou:

- Povo ordeiro desta terra não incite uma guerra. Se algo aqui está errado, hei de achar quem é culpado! Vão embora sem rancor, pois assim não tem pavor. Quando abrir a prefeitura eu darei minha lavratura!

Como que hipnotizado, o povão deixou de lado esse jogo inacabado. Em silêncio ia se embora, ordenado e sem demora, tanto quanto desolado. Apesar de ser berrante o que ocorrera em tal instante, golear o inimigo não chegava a ser castigo nem nos deixam inquietantes! Lembrado na memória, escrito fica na história só o placar desse levante... Só se guarda o que se aprece e pro resto que pareça não importa, não carece...

Os jogadores que ganharam? Ah! Hoje são reconhecidos; uns heróis outros bandidos! Mas só depois que as luzes se apagaram...

Danilo Rodrigues de Castro
Enviado por Danilo Rodrigues de Castro em 01/04/2011
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