DOIS TOSTÕES DE CHUVA

Um bondoso senhor que veio do sertão pernambucano sempre nos contava que na região onde morava existia um rude fazendeiro, incrédulo como ele só, o homem até parecia que tinha parte com o demo de tão ruim que era e alem do mais vivia zombando da religiosidade do povo humilde do sertão, dizendo que ficar falando aos pés de padre de nada adiantaria, ele que não providenciasse o cuidado com as lavouras e o gado, ninguém iria botar comida no prato dos seus filhos, tal qual os seus agregados, se não trabalhassem de sol a sol com certeza morreriam de fome e assim o povo o respeitava, mais por medo de sua índole infernal do que pelo seu ateísmo doentio.

Certo dia estava ele a beira da estrada quando passou um caboclinho conhecido na região, o cabra estava muito bem aprumado, e como se dizia na roça, com trajes de ver Deus. Como o sertão estava passando por uma período de estiagem, ou melhor dizendo, uma seca das brava, o fazendeiro ao ver o caboclinho naqueles trajes, enquanto na sua concepção deveria estar trabalhando, já treleu com o homem querendo saber onde ia aquelas horas em pleno dia de semana.

O Caboclinho muito proseador e atencioso que era disse estar indo a cidade pois ficou sabendo de uma romaria para Juazeiro e aproveitou a oportunidade para também ir interceder ao Padre Santo por chuvas para o sertão.

Ao ouvir a resposta do caboclinho, o fazendeiro caiu na gargalhada e tentou persuadir o cabra para desistir da viagem alegando que de nada adiantaria, mas convicto o caboclinho não deu atenção ao fazendeiro e ao retomar a caminhada o fazendeiro retirou do bolso duas moedas de tostão, jogou para o caboclinho e dizendo em tom de deboche

__ Já que vai perder seu tempo, aproveite e faça algo de útil, peça lá pra seu santo dois tostão de chuva pra minha fazenda.

Percebendo o insulto o caboclinho o avisou pra não brincar com coisa séria, a chuva era dom gratuito de Deus e que dois Tostão seria muita chuva para sua propriedade, no que o fazendeiro rebateu

__ Quero apenas dois tostão de chuva, nem mais nem menos e diga lá pro seu santo que já estou pagando muito.

Chegou a espora no cavalo e dando gargalhadas, saiu galopando e levantando poeira estrada afora e o caboclinho de posse daquelas duas moedas, seguiu viagem para cumprir também este pedido

Dois dias depois já no finalzinho da tarde, o tempo mudou repentinamente, nuvens negras escureceram o céu, trovoes retumbavam fazendo eco no vale e a chuva caiu abundante sobre toda a região, porem sobre a propriedade do fazendeiro incrédulo um forte temporal destruiu galpões e casas, e um chuva de granizo destruiu pastagens, plantações de café e ceifou a vida de animais causando um prejuízo foi incalculável.

Dias seguinte la vinha o caboclinho maravilhado com a misericórdia divina observando a resposta da natureza ante a benção da chuva, quando passando pela fazenda viu o fazendeiro desolado com o estrago causado pela chuva e aproximando do homem disse

__ Não disse pra vosmice num brinca com coisa séria. Bem avisei que dois tustão era muita chuva.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 19/03/2011
Código do texto: T2857713
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