Garça
Se olhássemos para a margem do rio, talvez, só talvez, veríamos que ali estaria um homem usando chapéu. Perguntariam por que estaria de chapéu? Oras, era pelo sol quente do meio do dia, mas, de certa forma, poderia ser pelo costume. Todos os dias, mesmo o sol não aparecendo, lá estava aquele homem de chapéu; mesmo na chuva, ou à noite, quando saía para caçar tatu, jaguatirica, queixado; às vezes jaratataca, mas este ele não comia, mas também não o matava por prazer; era apenas confusão.
Não sei por que, mas hoje ele estava pescando; acho que não iria trabalhar. Apanhou um graveto e nele colocava os peixes fisgados. Por hora era só. Às vezes ficava com os olhos esmiuçados na água, até que os fechava. Só os reabria quando uma muriçoca o incomodava. Então, não sei se por preguiça ou satisfação, resolveu ir embora.
Agora acontecia algo estranho. Ele dava um berro estranho. Algo respondia estranhamente. E Então uma garça surgia no céu para depois pousar em sua frente. Ele lhe fazia cafuné, lhe dava um peixe. Parecia que o bicho falava com ele. Não, era só o sol afetando o miolo. Daí ele ia embora de vez.
A garça ficava cabisbaixa, parecia triste, mas estava era de olho num lagarto. Acho que conseguiu o que pretendia. Depois coçou as penas com o bico e ficou numa perna só. Entrou e tornou a ficar numa perna só.
Então eu me levantei do lugar em que estava escondido, tirei uma foto e levei para A Casa da Moeda, onde o retrato da garça foi estampando na nota de cinco reais.