A DERROTA
Aquele pacato bairro rural, tão movimentado no passado, agora rodeado de grandes fazendas, os cafezais que mantinham o homem no campo deram lugar primeiramente as invernadas para criação de gado, agora, com a boa qualidade da terra, achando ser um desperdício plantar capim para engordar boi assim o plantio de cana de açúcar instigados pelos usineiros tomou conta de tudo, raramente se observa uma ou outra pequena propriedade rural com agricultura de subsistência perdida em meio aos canaviais.
Severino hoje já com idade avançada desde a infância na roça foi um desportista e apreciava, as vezes até com um certo exagero, o futebol, tendo vivido os bons tempos onde aos sábados e domingos era sagrada a visita a vendinha do bairro, que também não existe mais porem que na época áurea do café, raramente ficava sem um boa partida de futebol aos finais de semana, e mesmo que fosse uma pelada entre os “de camisa” e os “sem camisa”, sempre havia uma pequena platéia de torcedores.
Severino, aquele molecote do passado hoje é um respeitado senhor de pele escurecida pelo sol escaldante, enrugada nem tanto pelos anos vividos mas pela adversidade da natureza onde passou seus anos, não se conforma que todo aquele lindo movimento se foi, e o bairro agora nem sequer possuía um ponto de encontro para jogar conversa fora alias, como nos demais bairros da redondeza, tudo foi desmantelado com esta tal reforma agrária ( não a temida pelos latifundiários e usineiros da região, mas a praticada por eles), depois de muito filosofar resolveu a duras penas, montar um time de futebol, articulou com a diretoria da usina onde trabalhava conseguindo um espaço que se tornou o campo de futebol de várzeas que recebeu o nome da usina.
Após muitos treinos e brincadeiras, finalmente Severino sentiu que era o momento de ir mais avante, de jogar pra valer e com o seu conhecimento ficou sabendo de um torneio de futebol num bairro distante, não pensou duas vezes e inscreveu o time da usina para a tal peleja. Depois de tudo isso, agora se fazia necessário um meio de transporte para os atletas, assim Severino compareceu diante da diretoria da empresa, justificando que a agremiação levava o nome da usina e como havia inscrito o time para o torneio, solicitou um ônibus para o transporte dos jogadores no domingo aprazado.
O proprietário na qualidade de Diretor geral da Usina, vendo o esforço do homem, achou oportuna a reivindicação e liberou dois ônibus para o transporte de jogadores e torcedores para o falado campeonato, porem alertou o Severino:
___ Porem vejam se fazem bonito por lá.
Severino agradeceu e foi uma festa, no domingo de manhãzinha lá estavam todos, jogadores e torcedores que rumaram para o campo dos adversários ansioso por tal disputa.
Na segunda feira seguinte, lá vem Severino para o batente, meio cabisbaixo, porem feliz da vida e por coincidência ou não, a primeira pessoa a cruzar seu caminho naquela manhã foi o patrão, que logo perguntou em tom de cobrança
___ E dai Severino! Como foi o jogo ontem?
Severino tirou o chapéu da cabeça, com muito respeito, cumprimentou no seu jeito humilde o patrão e respondeu sem rodeios:
___ Perdemos de dez a zero, Ahhh patrão! Mais démo trabáio pros home.
O patrão deu um sorriso amarelo e nunca mais liberou transporte para jogo, não se sabe até hoje se pela derrota ou se porque Severino nunca mais conseguiu reunir seus atletas depois da estréia frustrada.