Soltei a galinha!
Nunca gostei de chegar perto de uma galinha; pegar então nem se fala. Quando era pequena se comprava de tudo na porta de casa; chegavam os vendedores montados em burros e jegues (não sei a diferença de um para outro) e gritavam:
Olha o leite sem água!
Olha o pão fresquim!
Olha as verdura verdinha!
Olha as frutass docinha!
Olha as galinhas gorda!
etc., etc., etc.
Um dia a minha tia ia à feira, comprar verduras e frutas, porque o resto era missão do pai-avô.
- Isso é comigo, dizia ele. Mercado não é lugar de mulher, aqueles magarefes são brutos e mal educados, vocês não fazem idéia do que é comprar carne! A gente nem pode escolher. Eles logo perguntam: quantos quilos vai querer? E já vão cortando aqui e ali.
E nós, dia comíamos carne mole, noutros não dava, tinha que passar na máquina.
Fomos à feira de frutas e verduras, mas que também tinha de tudo, principalmente galinha. Viva, claro!
A feira era em frente à Prefeitura, uma rua larga com três ou quatro fileiras em toda a sua extensão, com esteiras e pedaços de lona no chão, e os variados produtos em cima. Era um ir e vir sem controle; uns iam outros vinham, sem contar com os “matutos” que trouxeram os produtos a gritar: “cum licença” “olha a carne verde!” “cuidado cum a rôpa!”
Era porco funchando, galinha batendo asas, bolsa caindo, uma agonia traumatizante, a ponto de, depois que fiquei mocinha, jamais fui à feira;(já tinha supermercado, um só, é verdade, mas era lá que eu ia).
Na feira livre, pouco espaço de uma fileira para outra, mal dava para duas gordas bundas , cada uma de um lado. Todo mundo abaixado para escolher; quiabo, maxixe, cebola, manga, rapadura, maracujá, andu, batata doce, milho verde, feijão de corda, andu, mangalô, carambola, siriguela, requeijão, pintinhos e... galinhas, claro! deitadinhas e quietinhas que só vendo.
E lá estava minha tia escolhendo enquanto eu “ajudava” a por nos sacos de papel pardo o que ela escolhia, enquanto rezava: Minha nossa Senhora de Fátima, fazei com que ela não compre galinha, por favor! Ela vai me mandar levar e eu tenho medo, eu não quero; ajude-me Nossa Senhora!
Escolhe daqui, escolhe de lá, dois sacos cheios e eu pensando... Um em cada mão. E não vai levar galinha. De repente, ela se abaixa de novo, apalpa uma galinha, pergunta o preço e diz: segura aqui pelas pernas querida, enquanto eu pego o dinheiro. O preço está mais em conta aqui.
Eu? –A senhora sabe que tenho medo de galinha, tia.
-Ela está quietinha, não vê? É só segurar firme; toma, segura!
Tremendo, segurei nos pés da galinha, amarrados com uma palhinha verde e dado nó. Não movia nem meus olhos.
Em um instante a galinha enlouqueceu, batia asas e gritava cóóó ri có có ri có; E eu? Soltei a bicha que saiu pulando doidinha de um lado para outro com os pés amarrados.
-Corre, vai pegar a galinha, vai!
-Eu? Vou não, deixa ela, tia; deixa...
- Mas eu já paguei menina!
O povo correndo uns com medo, outros para pegar a bicha, até que trouxeram a galinha. Eu saí perdendo, porque levei o saco de verduras que era mais pesado e saí ganhando, porque não levei a galinha.
A Santa me ajudou; mas assim mesmo, minha tia ia à frente e eu atrás, até chegar em casa. Vai que a galinha resolve fazer um fricote de novo e pular prá cima de mim... Eu heim?
Imagem: Feira livre em Feira de Santana-BA- Br - autoria não encontrada
Nunca gostei de chegar perto de uma galinha; pegar então nem se fala. Quando era pequena se comprava de tudo na porta de casa; chegavam os vendedores montados em burros e jegues (não sei a diferença de um para outro) e gritavam:
Olha o leite sem água!
Olha o pão fresquim!
Olha as verdura verdinha!
Olha as frutass docinha!
Olha as galinhas gorda!
etc., etc., etc.
Um dia a minha tia ia à feira, comprar verduras e frutas, porque o resto era missão do pai-avô.
- Isso é comigo, dizia ele. Mercado não é lugar de mulher, aqueles magarefes são brutos e mal educados, vocês não fazem idéia do que é comprar carne! A gente nem pode escolher. Eles logo perguntam: quantos quilos vai querer? E já vão cortando aqui e ali.
E nós, dia comíamos carne mole, noutros não dava, tinha que passar na máquina.
Fomos à feira de frutas e verduras, mas que também tinha de tudo, principalmente galinha. Viva, claro!
A feira era em frente à Prefeitura, uma rua larga com três ou quatro fileiras em toda a sua extensão, com esteiras e pedaços de lona no chão, e os variados produtos em cima. Era um ir e vir sem controle; uns iam outros vinham, sem contar com os “matutos” que trouxeram os produtos a gritar: “cum licença” “olha a carne verde!” “cuidado cum a rôpa!”
Era porco funchando, galinha batendo asas, bolsa caindo, uma agonia traumatizante, a ponto de, depois que fiquei mocinha, jamais fui à feira;(já tinha supermercado, um só, é verdade, mas era lá que eu ia).
Na feira livre, pouco espaço de uma fileira para outra, mal dava para duas gordas bundas , cada uma de um lado. Todo mundo abaixado para escolher; quiabo, maxixe, cebola, manga, rapadura, maracujá, andu, batata doce, milho verde, feijão de corda, andu, mangalô, carambola, siriguela, requeijão, pintinhos e... galinhas, claro! deitadinhas e quietinhas que só vendo.
E lá estava minha tia escolhendo enquanto eu “ajudava” a por nos sacos de papel pardo o que ela escolhia, enquanto rezava: Minha nossa Senhora de Fátima, fazei com que ela não compre galinha, por favor! Ela vai me mandar levar e eu tenho medo, eu não quero; ajude-me Nossa Senhora!
Escolhe daqui, escolhe de lá, dois sacos cheios e eu pensando... Um em cada mão. E não vai levar galinha. De repente, ela se abaixa de novo, apalpa uma galinha, pergunta o preço e diz: segura aqui pelas pernas querida, enquanto eu pego o dinheiro. O preço está mais em conta aqui.
Eu? –A senhora sabe que tenho medo de galinha, tia.
-Ela está quietinha, não vê? É só segurar firme; toma, segura!
Tremendo, segurei nos pés da galinha, amarrados com uma palhinha verde e dado nó. Não movia nem meus olhos.
Em um instante a galinha enlouqueceu, batia asas e gritava cóóó ri có có ri có; E eu? Soltei a bicha que saiu pulando doidinha de um lado para outro com os pés amarrados.
-Corre, vai pegar a galinha, vai!
-Eu? Vou não, deixa ela, tia; deixa...
- Mas eu já paguei menina!
O povo correndo uns com medo, outros para pegar a bicha, até que trouxeram a galinha. Eu saí perdendo, porque levei o saco de verduras que era mais pesado e saí ganhando, porque não levei a galinha.
A Santa me ajudou; mas assim mesmo, minha tia ia à frente e eu atrás, até chegar em casa. Vai que a galinha resolve fazer um fricote de novo e pular prá cima de mim... Eu heim?
Imagem: Feira livre em Feira de Santana-BA- Br - autoria não encontrada