A HISTORIA DO NEGRO CUSTODIO V

Quinta Parte - A Consequência

Hoje de manhã fui a venda comprar o que estava necessitando e voltando para casa envolvido nos meus pensamentos nem percebi, ao aproximar do pequeno riacho que lá estava o meu velho e conhecido amigo. “Com certeza vou levar uma bronca danada”, pensei cá com meus botões, mas que nada, o homem esboçou o sorriso de sempre e me disse:

___ Hoje sou eu quem vai te levar, Custódio!

Espantado perguntei para onde ele iria me levar mas ele me acalmou dizendo:

___ Não tenha medo Custódio, você é um homem corajoso, valente e ousado. Vou te levar para um lugar especial, pode confiar.

Não entendi se foi um elogio ou uma bronca, mas como não tinha nada a temer, subi nos ombros do amigo e num passe de mágica, lá estávamos nós, num lugar muito bonito e que eu nunca tinha visto, parecia uma enorme capela, cheia de velas acessas, tinha velas de todos os tamanhos e de todas as formas e o homem misterioso me disse:

___ Este é o meu recanto favorito Custódio! É daqui que eu controlo a vida de todos os viventes da terra. Aqui sei quem tem vida longa e quem já cumpriu sua missão. Cada vela acesa é uma vida.

Dito isto, foi mostrando uma por uma as velas que estavam acesas, entre elas estava a tua e de muitos outros que curei no decorrer dos anos todos porem, uma das velas me chamou atenção, era grande, a chama estava alta e queimava exalando um suave perfume de rosas, foi então que perguntei: A vida de quem é essa vela?

E o homem respondeu serenamente:

___ Lembra da menina que curastes noite destas?

Num gesto com a cabeça confirmei que lembrava e ele me respondeu

___ Esta é dela!

Mais uma vez enchi o coração de orgulho ao alegrar com o que ouvi, não me contive e rapidamente retruquei:

___ E você se posicionou na cabeceira da cama! Por que? Estava querendo me tapear heim!

O misterioso homem parecendo não ouvir meu questionamento, não se incomodou com a zombaria e prosseguiu seu passeio pela gruta. Eu o seguia calado observando a imensidade de velas acesas naquele lugar que, por incrível que parece, tinha uma temperatura amena, nem quente nem frio e caminhávamos até quando outra vela novamente me chamou a atenção. Era uma pequena vela que já havia se consumido quase por completo e cuja chama se esforçava para não apagar, e exclamei dizendo em tom de zombaria:

___ Coitado do dono desta, este já está com o pé na cova!

E o anfitrião olhou para mim e calmamente retrucou:

___ Esta é a vela que vosmice trocou com a menina.

Só mi lembro que ao ouvir a resposta, senti faltar o chão aos meus pés e quando redobrei a consciência, já estava do outro lado do riacho, olhei para os lados, não vi ninguém, um arrepio subiu pela espinha, nunca senti tanto medo em minha vida como naquele instante, sem se preocupar com nada, imaginado que aquilo tudo não passava de um pesadelo, caminhei rapidamente para casa e ao passar numa moita de margoso, já próximo do terreiro, sem desconfiar de nada, lá estava ela, a danada me esperando. Bote foi certeiro e me ofendendo aqui na coxa.

O famoso benzedor e curandeiro, conhecido popularmente por Negro Custódio homem rude do sertão, naquela manhã chegando em casa, ao passar por um moita de Capim Amargoso, não percebeu que uma urutu na rudia o espreitava, o bote foi certeiro e essas foram as ultimas palavras em seu leito de morte, quando não tendo mais forças, virou-se para o lado, permaneceu em silencio, instantes depois, expirou.

Enquanto vovô narrava o acontecido, meus primos e eu não arredamos o pé da sombra da frondosa guaiuvira no terreiro, ao terminar estávamos todos maravilhados com a historia do negro Custódio e vovô emocionado, tanto que pudemos ver na maçã enrugada de seu rosto, as lágrimas caindo, talvez aquelas lagrimas que ficaram presas ao encontrar o seu amigo carecendo de um confessor no seu leito de morte.

FIM

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 14/02/2011
Reeditado em 14/02/2011
Código do texto: T2792038
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.