O Menino e a Privada
Meados dos anos sessenta, no pequeno povoado do interior de Goiás com o nome de Pendura Saia. Os moradores de lá, não contava com energia elétrica, muito menos com saneamento de água e esgoto. Os moradores de lá tinha em suas casas, cisternas para retirar a água. Para fazer suas necessidades fisiológicas usava privada, as privadas eram feitas no fundo dos quintais. Eram feitas da seguinte forma, fazia uma fossa, colocava caibros por cima, depois colocava tabuas com um buraco bem no meio, depois faziam uma casinha em volta de tijolos com um telhado em cima.
Foi neste cenário dos anos sessenta que vivia lá seu Zé da Horta com sua família. Ele mudou da roça para o povoado porque sua esposa dona Amália, queria que seus dois filhos, Otavio mais conhecido como Tavinho e Martinha, estudasse, queria fazer do Tavinho, doutor em medicina. E de Martinha, professora. Pois desejava para os filhos um futuro melhor do que o seu e do seu marido. Porque ela não sabia ler nem escrever seu pai dizia que filha mulher não precisava aprender a ler porque se aprendesse iria escrever carta para namorado. Já seu marido, lia mais ou menos estudou na escola da roça até alcançar o professor.
Seu Zé ia e vinha todo o dia do seu pequeno pedaço de chão, pois precisava labutar na roça para dar o sustento da sua família, era uma vida dura. Mas precisava tocar pra frente. Dona Amália fazia tudo para ajudar o marido nas finanças da casa para poder fazer economia, porque a finalidade era estudar os filhos. Ela bordava, costurava tudo com único objetivo ver os filhos estudados. Martinha via o esforço dos pais, estudava. Tavinho, só queria saber de brincar com as outras crianças. Até que certo sábado a professora da escola foi à casa de dona Amália saber se Tavinho estava doente, pois já fazia quatro dias que ele não aparecia na escola. Dona Amália ficou branca de vergonha ao saber que o filho não estava indo a escola e garantiu para a professora que na segunda ele estaria lá.
Dona Amália esperou a professora ir embora para chamar o filho para dar-lhe uma surra, como corretivo para ele aprender que a escola era para ser levada a sério. Quando Tavinho chegou até onde a mãe estava e a viu com a cinta na mão, saiu correndo para se esconder, porque não queria apanhar. O único lugar que ele pensou que podia esconder seria na privada e assim fez. Só que, ele estava com tanto medo que esqueceu que deveria entrar com cuidado dentro da privada porque a tabua já não estava mais firme. Entrou correndo e a tabua virou ele caiu dentro da fossa que estava cheia de fezes e muitos bichos de mosca. Dona Amália, ouviu o barulho de algo caindo, e o grito do filho pedindo socorro, quando Martinha entrou correndo e dizendo, mãe o Tavinho caiu dentro da privada. Ela correu até lá e viu que realmente o filho estava dentro da privada todo coberto de fezes. Ela começou a gritar e a chorar, a vizinhança toda correu até sua casa para ver o que tinha acontecido,
Foi um alvoroço só, pois cada um dizia algo para tentar tira-lo lá de dentro. Foi quando seu Bento que era o dono do armazém chegou com uma corda, e disse vamos jogar a corda para puxá-lo. Dito e feito, ele chegou perto e gritou para Tavinho que quando jogasse à corda que segurasse bem firme nela para eles poderem tirá-lo de lá de dentro. E Tavinho foi puxado para fora, estava que era sós fezes velhas e fedidas. Foi quando dona Helena esposa do seu Bento chegou com um vidro de Creolina e um litro de álcool. E disse alguém vá tirar água na cisterna para que possamos dar banho no Tavinho.
Um dos vizinhos correu até a cisterna e trouxe uma balde com água, dona Helena, pegou a balde, disse para dona Amália que segurasse o filho, pois ele estava todo mole ao ponto de desmaiar e jogou água na cabeça dele, fizeram isso várias vezes até tirar aquele monte fezes dele. Depois disto tirou a roupa dele, colocou-o dentro da bacia para tomar banho de creolina, sabão, depois passou álcool pelo corpo dele para desinfetar.
Quando seu Zé chegou a casa viu aquele alvoroço na porta de sua casa, ficou afobado pensando que alguém da sua família havia morrido, entrou correndo porta adentra. Foi quando seu Bento o segurou pelo o braço e disse compadre fique calmo, pois o pior já passou. Aí contou tudo que havia acontecido a ele. Dizendo no final, compadre Zé, juntar dinheiro é bom, mais o amigo precisa pensar no conforto da família, porque a sua privada está em péssimas condições não sei como isso não aconteceu antes. Faça uma privada decente para sua família como eu fiz na minha casa. Ele balançou a cabeça e disse o compadre tem toda razão. No outro dia chamou o pedreiro para fazer outra privada.
Agora quando a Tavinho, Na segunda não foi a aula, ficou vários dias sem ir à escola, pois ficou doente, pois além de ter tomado banho de creolina, tomou um purgante, pois quando caiu na privada engoliu fezes. Ele a prendeu a lição de que era melhor ir para escola do que correr da mãe depois. E esse causou correu todo o povoado como as redondezas das bandas de Pendura Saia. Porque lá podia ser um povoado pequeno mais de muitos acontecimentos. Logo volto para contar mais um causo de lá.
Lucimar Alves