A HISTORIA DO NEGRO CUSTODIO III
Terceira Parte - O Dom
Depois disto, não demorou muito, acredito que vosmice se lembra quando foi acometido por uma doença sem explicação, só sei que estava muito mal e corria nas redondezas boatos que seus familiares estavam esperando somente a morte chegar, pois já haviam feito de tudo, procurado recursos até na medicina, gastado um bom dinheiro na farmácia do patrimônio e nada de melhora. Assim, como bons companheiros que sempre fomos, fui visitá-lo com o firme propósito de passar aquela noite em sua companhia e ao entrar em seu quarto tive uma grande surpresa: lá estava aos pés de sua cama, aquele homem que havia ajudado a transpor o ribeirão. Todos conversavam entre si, porem o homem permanecia ali calado e ninguém dirigia palavras a ele, era como se a sua presença naquele lugar não fosse notada por ninguém. Fiquei impressionado com aquele fato e só fui entender o que estava acontecendo quando o homem se dirigiu a mim dizendo:
___ Não tenhas medo, lembre de nosso trato. Eles não podem me ver nem me ouvir. Lembra do que eu prometi,
Achei aquela cena um tanto quanto macabra, na hora me veio a mente os momentos vividos na ponte bem como as palavras do misterioso homem, fiquei sem saber o que fazer, e ele olhava para mim a espera de uma resposta, com medo de que qualquer palavra dita naquele momento fosse causa de piegas, então com um leve aceno de cabeça que passou desapercebido por todos, confirmei que me lembrava de suas palavras e ele ponderou:
___ Pois então, reze pelo seu amigo e ele será curado.
Esta ordem me pegou de surpresa, sabia as rezas que meu pai e minha mãe me ensinaram e embora fizesse as minhas orações, nunca fui um cristão fervoroso, mas naquele momento senti que não havia nada a perder, se o homem estivesse falando a verdade a cura de vosmice estava em minhas mãos, caso contrario iria ser apenas motivo de chacota por um bom tempo pelo bairro mas percebi que valeria a pena tentar assim, me enchi de coragem e meio sem jeito, com a voz tremula de emoção e de medo, disse aos demais presentes no quarto que eu iria fazer uma oração que havia aprendido com meu avô e levado por um poder que não sei de onde veio, talvez daquele homem que em pé aos pés da cama emanava uma energia positiva, criei coragem e aproximando do leito, coloquei as mãos em sua cabeça, fiz minha oração conforme inspiração divina ao que todos ficaram boquiaberto, pois nunca tinham ouvido falar deste meu dom, que a bem da verdade nem sequer eu sabia ser possuidor. Terminada a oração, o homem se afastou e como era de se esperar, ninguém notou sua partida.
Verdade é que após a oração, amigo começou apresentar sinais de melhora a olhos vistos e aos poucos, com o adiantado da hora, as pessoas foram se retirando para as suas casas. Eu e mais dois colegas permanecemos junto do amigo até o raiar do dia como havíamos combinado e graças a Deus, vosmice se recuperou e em poucos dias já estava curado, como se nada tivesse acontecido.
Segue Parte IV ...