A HISTORIA DO NEGRO CUSTODIO I

Primeira Parte - A Visita

Custódio era um negro já maduro na idade, deveria ter lá seus 60 anos de idade, porem como diz o ditado, “O Negro quando pinta, tem três vezes trinta”, Custódio até aparentava ser mais novo tal a aparência do negro que sempre se apresentava bem trajado. Era uma pessoa conhecida na região, homem de bons princípios, muito prestativo, estando sempre disposto a ajudar as pessoa que o rodeava, alem de ser um benzedor e curandeiro dos mais afamados. Ele nunca se casou e desde a morte dos pais que aconteceu ainda na sua juventude, morava sozinho num pequeno sitio de sua propriedade, ao pé da serra, sua casa era uma choupana coberta de sapé e com parede de barrote, porem muito bem zelada, característica do morador que gostava de manter sempre bem organizada suas coisas, a casa, o terreiro e as ferramentas de trabalho.

O negro, apesar de ser filho de escravo, nunca chegou a ser um, agradecia ao bom Deus pelo decreto da princesa que o libertou antes mesmo de nascer, vivia feliz e se orgulhava de sua cor escura sendo que as vezes até fazia piadas de sua condição de pequeno proprietário e patrão de si mesmo. Vivia do que produzia sua pequena propriedade, não tinha luxo e estava sempre a serviço da população, era só solicitar, e lá ia o Negro Custódio para mais um benzimento e isto não tinha dia nem hora, era quando fosse preciso.

Numa bela tarde de domingo, estava só na vida, sai a andar pelo bairro sem destino certo, eis que me atinei a passar na casa do negro, afinal de contas éramos amigos desde a infância, crescemos juntos no bairro, nunca tivemos qualquer entrevero e até lhes devia uma obrigação, quando fui acometido por uma doença que ninguém até hoje soube explicar o que era, foi graças às rezas do danado que fui curado porquanto meus familiares já me tinham dado por morto, inclusive diziam todos que foi aí o inicio de seu dom de benzedor que até então ninguém conhecia e cuja noticia logo se esparramou dando ao Negro a fama de maior Benzedor e Curandeiro que existiu por aquelas redondezas.

Parece até que foi um chamado de Deus esta minha visita, ao chegar no terreiro, após dar o sinal com uma raspada na goela e um tosse forçada, gritei como de costume:

___ Ôhhh de casa!

Achei um pouco estranho o Negro Custódio não vir me receber a porta, tão acolhedor que era e não deveria estar dormindo àquelas horas do dia, pois era um caboclo ativo, se não estivesse fora ajudando alguém, em casa sempre estaria cuidado de suas coisas, o pomar, a horta, cuidados dos animais que tanto estimava. Com certeza havia algo de errado nesta historia toda, poderia estar adoentado foi o que me pareceu a primeira vista, até que ouço uma voz rouca, era a característica voz do negro, vindo de dentro da choupana:

___ Pode entra, tô no quarto.

Sem meias palavra adentrei á casa, sentido no coração que talvez o velho companheiro estivesse precisando de ajuda e realmente estava. Encontrei-o deitando na cama, ardendo em febres e quase sem forças pra falar. Quis sair dali correndo para pedir ajuda, mas ele atarracou firme no meu braço, pediu para que sentasse em sua cama e que ficasse em sua companhia pois não adiantaria nada, sua missão havia chegado ao fim, restava-lhes poucos minutos de vida e precisava de um amigo ao seu lado no momento da passagem.

Senti um arrepio as palavras do amigo, mas fiz conforme me pediu, sentei na cama ao seu lado, peguei em sua mão, ele olhou para mim, riu mostrando seus impecáveis e bem cuidados dentes brancos entre aqueles lábios carnudos, realçando a cor negra do rosto.

Acomodou a cabeça no travesseiro, disse ter sido Nosso Senhor Jesus Cristo a me enviar ali naquele momento e em voz baixa, falou que precisava contar algo, um segredo que guardara desde a juventude, mas que agora, no final da vida, precisava partilhar com alguém de confiança e muito debilitado começou a relatar um segredo de sua vida o que ouvi calado, segurando as lagrimas para que não rolassem rosto abaixo.

Segue parte II ...

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 05/02/2011
Reeditado em 11/02/2011
Código do texto: T2773970
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