Rodando a Baiana
Senhor de meia-idade, porte distinto, esmerando na maneira de trajar, um autêntico “Lord Inglês”; fora estes atributos o tal “Lord” ainda era: um bom esposo, pai exemplar e amigo fiel, resumindo as coisas, Valdemir era um “Poço de Virtudes”. Tudo isto e alguma coisa a mais, porém, com um agravante. Valdemir era um “tarado” por carnaval, quando chegava a época momesca o homem esquecia tudo, desligava o velocímetro e mandava ver, fazendo coisas que até o “diabo” duvidava.
Sábado de carnaval, Valdemir acordava cedo, já fizera o seu “cooper” matinal e agora estava tomando o café da manhã. – De repente levanta-se da mesa e diz para a mulher que iria até a banca de jornais da esquina comprar cigarros.
Ao chegar na calçada faz sinal para um táxi que passava, entrou rapidamente e gritou para o motorista:
- Olinda !
- Qual o destino “meu chefe”? Perguntou o motorista
- Olinda ! Sede do bloco “As Virgens de Olinda”!
Meia hora após o táxi estacionar em frente à sede do bloco, Valdemir desce apressado se encaminhando para um quartinho localizado no quintal da casa, onde uma costureira dava os retoques finais nas fantasias dos integrantes do bloco.
Valdemir apanha a sua fantasia de baiana, ele estava tão eufórico para cair na “gandaia”, que ali mesmo no quintal com a ajuda dos amigos passou a se fantasiar, agora seria a vez do maquiador.
Naquele ano “As Virgens de Olinda” iriam fazer uma homenagem às famosas Ex-Miss Brasil, Valdemir iria sair de Marta Rocha.
Depois dos preparativos uma girândola anunciava mais um desfile das Virgens de Olinda e lá vão eles sambando pelas ruas de Olinda em direção ao Quartel General da Folia, localizado na famosa Praça do Jacaré.
Após uma hora de desfile, depois de tomar generosas doses de bebidas fornecidas pelo “carro-bar” do bloco, Valdemir começou a “desbundar”, em vez do sério executivo, no seu lugar, surgiu a exuberante baiana “Marta Rocha” rebolando avenida a fora, soltando “beijinhos” para a multidão e “beijões” no rosto dos incautos que se aventuram a ficar junto ao cordão de isolamento ao longo da avenida.
No meio da tarde, ao final do desfile das Virgens de Olinda, Valdemir já estava “pra lá de Bagdá”, mesmo assim não parava de beber e de frevar. – De tanto fazer estripolias, da sua fantasia de baiana só restavam: o pano da cabeça, a calcinha e o sutiã.
Perdido na multidão, Valdemir passou a acompanhar o vai-e-vem dos blocos e troças pelas seculares ladeiras da cidade velha de Olinda. – À noite bastante cansado é encontrado por um grupo de amigos e levado para casa.
O amigo do Valdemir que conduzia o carro, sabia que a sua mulher era uma pessoa educada, mas, naquelas ocasiões virava uma “fera”, portanto, por que arriscar? Estacionou o carro na frente da casa e com a ajuda dos amigos carregaram o Valdemir até o terraço, deixando-o escorado na porta de entrada, em seguida tocaram a cigarra.
Quando perceberam que vinha alguém atender a porta, deixaram o terraço se escondendo do lado oposto a rua.
Quando a porta foi aberta, Valdemir cai de cara para dentro da sala. – A mulher ao ver o marido naquele estado, vira uma “arara”, aos gritos chama pelo vigilante da casa para ajudá-la.
Valdemir é evado para o quarto e colocado sobre a cama, a mulher ao seu lado. P. da vida, passa a gritar reclamando do marido.
Já fazia quase meia hora que Valdemir havia chegado em casa e a mulher não parava de falar e ele lá imóvel naquele porre “homérico”.
Com a barulheira que a mulher fazia, Valdemir teve um momento de lucidez, abre um dos olhos e com aquela voz pastosa diz para a mulher:
- Ohhhh Mulherrrrrr, …anota tudo que você está dizendo num pedaço de papel… garanto que amanhã como sem falta eu leio tudinho… agora… me deixa dormir…