UMA VISITINHA NO INFERNO
Era meio de semana o dia estava preguiçoso e a venda do Ze bento estava entregue as baratas aquela hora do dia, o vendeiro cochilava sentando numa cadeira atrás do balcão enquanto seu ajudante limpava e organizava algumas mercadorias na prateleira, eis que adentra venda o conhecido Chico Paula, um autentico caipira e exímio contador de causos mas que trazia uma fisionomia abatida, parecia até que havia passado a noite sem dormir e o vendeiro ao bater-lhe o olho percebeu que o caboclo proseador estava com ares de preocupado e com seu trejeito aportuguesado que herdará de seu pai, o indagou se estava tudo bem, o suficiente para o caboclo desabafar:
___ Foi nada naun Seu Zé, só qui esta noite vivi uns momento muito dos isquisito e isso tá mi incabulano.
O vendeiro que conhecia muito bem a sua freguesia, não teve duvidas que algo estranho havia acontecido com homem e isto o preocupou, seria por ventura alguma doença nalgum membro da numerosa família ou algum outro mal que o pobre homem vivenciou durante a noite, um tanto quanto curioso, quis saber o ocorrido no que o freguês pós a relatar nos mínimos detalhes e com seu jeito acaipirado de falar:
___ Puis óia homi, num é que esta noite tive uma ispiriencia qui nuca tinha tido, puis nu é queu murri e mortinho qui tava, saí andano por ai sem distino e por uns lugar muito bunito, paricia tá andano nas nuvi, uns prefume de rosa que só senhô veno i pra incurta a estória, sem cunhece o caminho certo, acabei ino direto pru céu, so que quando cheguei lá, logo veio ao meu incontro um véio barbudo, nem pirguntei o nome dele mas pelo que falava padre Adorfu, devia sê o tar de São Pedro puis diz qui é ele qui tem as chave dos céus e foi ele qui intão abriu a porta e mando eu intrá, pirgunto o meu nome, adepois pego um baita dum livro numa partileira e começo a procura meu nome naquele livrão, i vira foia pra lá, i vira foia pra cá mais acabo num achano eu lá, intão oió pra mim e disse qui eu tinha ido lá por engano, era preu desce que meu nome devia tá no livro lá dibaixo. Nessa hora inte gelei, lembrei dinovo da palavra do padre Adorfu qui sempre dizia que devemo fazê o bem pra nun i pros quinto dos inferno, lugá de muita dor e tortura, dicerto eu haverá feito arguma coisa que o homi lá de cima num gostô mas faze u que agora, já tinha morrido memo e pra num fica zanzano por ai iguar arma penada o resto da vida, resorvi desce e prucura logo esse tar lugá la dibaixo pra ajeita as coisas. Puis oia seu Zé, sabe qui inté num foi difici de incontra e assim que puis os pés naquele lugar, me veio atendê um rapaiz granfino, todo ingravatado, metido num belo terno preto de linho e muito alegri, quando eu disse meu nome e qui o barbudo lá di cima tinha mandado eu pra lá, ele si riu de zôreia a zôreia e nem pricuro em livro nenhum, disse queu já tava seno isperado, mando eu entra que meu lugá tava reservado, num istralá de dedo féis aparece um guardinha na minha frente, ali assim du nada i pidiu prele me levá pros meus aposentos, nessa hora mi deu inte uns arripio. Seu Zé do céu, o lugar na porta di intrada era muito bunito, inté mais bonito que o céu, mais adepois a coisa foi ficano diferente, ô tá luga feio dus diabo, cum perdão da má palavra, mais fui siguino o guia de capuz vermeio que ia na minha frente pra mostra o meu luga, e o pió o sinhô num sabe, é que cada veis mais o luga ia ficano isquisito, inté qui adentremo num lugar cum fedô de merda danado, paricia inté que era a privada do mundo e foi quando o guardinha abriu a porta e mandô eu entra, i cumu diz o ditado, manda quem pode e bedece quem tem juízo, e eu que nun sô lôco nem nada, entrei, mas Seu Zé, no queu entrei cai direto dentro dum enorme cardeirão de bosta e acabei ficano so com a cabeça pra fora daquele merdero, coisa horrorosa, eu ali junto cum mais um punhado de gente, homi e muié, tudo na mema situação, com bosta até o pescoço e cada veiz chegano genti, num sei cumo cabia tanta genti dentro daquele cardeirão, pois é meu amigu, o pió tava pur acontece, foi quando arguem gritô “cuidado co’a foice”, no qui eu oiei assim, la vinha o cusarruim vuano baixinho por sobre aquela merda, cuma enorme foice iguar esses arfrange de cortá arfafá, afiadim, afiadim qui chegava inte briá os corte, i vinha ceifano as cabeça di todo suberbo que insistia im ficá côa cabeça erguida e só escapava quem mirguiava a cabeça na merda, éh, o Seu Zé ri porque num tava lá naquelas condição, mais pra dize a verdade pru sinhô, memo naquele apuro inté eu tive um momento que achei ingraçado tamem, era qui tinha umas dama muito elegante, toda aprumada, de batão nos beiços i tudo mais, só qui nessa hora inté elas deram suas mirguiadinha na merda pra livra o pescoço da foice... Póde sê uma coisa dessa Seu Zé Bento?
O comerciante que juntamente com o ajudante, ouvira atentamente a história de Chico Paula, perguntou com um sorriso maroto nos lábios, se ele também tinha mergulhado a cabeça no meio da merda ao que o homem respondeu:
___ Qui nada, eu naum! Acordei bem na horinha em que iam corta minha cabeça, mas sinhô aquerdita qui cum esse mardito sonho, perdi o bendito do sono, só fui passar por uma modorninha já tava manheceno o dia.
O vendeiro então ponderou
___ Que nada seu Chico, dizia os antigo que sonhar com merda é bom agouro, sinal de muita gaita nas algibeira.
___ Si é qui é, intão me vê uma dose dupla daquela branquinha boua e vamu cumememora sô!.
Pediu o caboclo que depois de tomar umas e outra na venda do seu Zé Bento ficou mais descontraído e voltou para casa como sempre, de bolso vazio mas feliz da vida.