O CUMPADRE DA FILHA "CULTA"
A MÍDIA BRASILEIRA VICIOU O POVO EM LER OU ASSISTIR TRAGÉDIAS URBANAS FAZENDO COM QUE SE MASSIFIQUE ATÉ AS PROSAS E IDÉIAS
- Ô cumpade, cê tá bão?
- Tô nada, sô.
- Por caos de quê?
- Ah cumpade, é minha fia de novo.
- O que é que foi agora, cumpade?
- Nessas férias que minha fia passou poraqui eu num dei conta de cunversá quela. Fui contá a história de quando conheci minha muié, ela disse que já tinha injuado dessa prosa. Fui contá a história da vaca Mimosa, ela levantou, falou que já sabia e ligou a tar da televisão. Fui tentá falá mais arguma coisa, ela ficou brava, falou pra mim comprá um jornal pra vê se mudava a prosa.
- E aí, cê comprou o jornal?
- O pió que no dia que fui na cidade levá minha fia, comprei o tar do jornal.
- E aí?
- Uai cumpade, já li ele umas déis vêis e num consigo intendê nada. Pidi o cumpade Zefirino pra trazê outo pra mim lê proque parecia que tinha comprado a coisa errada. Num é que o outo era iguarzinho, iguarzinho!
- O quê quesse tar de jornal fala cumpade?
- Pra mim ele num fala nada, mas sêsse povo da cidade fazê o que o jornal fala, o mundo tá memo perdido.
- Me empresta pra mim lê cumpade?
- Ô cumpade, num vai dá. Levei ele pra roça pra usá nas horas das necessidade e nem prá isso ele serviu.
- Caos de quê cumpade?
- Depois de usado ele ficou manchado de sangue.
JOSÉ EDUARDO ANTUNES