O CUMPADRE DA FILHA "CULTA"

A MÍDIA BRASILEIRA VICIOU O POVO EM LER OU ASSISTIR TRAGÉDIAS URBANAS FAZENDO COM QUE SE MASSIFIQUE ATÉ AS PROSAS E IDÉIAS

- Ô cumpade, cê tá bão?

- Tô nada, sô.

- Por caos de quê?

- Ah cumpade, é minha fia de novo.

- O que é que foi agora, cumpade?

- Nessas férias que minha fia passou poraqui eu num dei conta de cunversá quela. Fui contá a história de quando conheci minha muié, ela disse que já tinha injuado dessa prosa. Fui contá a história da vaca Mimosa, ela levantou, falou que já sabia e ligou a tar da televisão. Fui tentá falá mais arguma coisa, ela ficou brava, falou pra mim comprá um jornal pra vê se mudava a prosa.

- E aí, cê comprou o jornal?

- O pió que no dia que fui na cidade levá minha fia, comprei o tar do jornal.

- E aí?

- Uai cumpade, já li ele umas déis vêis e num consigo intendê nada. Pidi o cumpade Zefirino pra trazê outo pra mim lê proque parecia que tinha comprado a coisa errada. Num é que o outo era iguarzinho, iguarzinho!

- O quê quesse tar de jornal fala cumpade?

- Pra mim ele num fala nada, mas sêsse povo da cidade fazê o que o jornal fala, o mundo tá memo perdido.

- Me empresta pra mim lê cumpade?

- Ô cumpade, num vai dá. Levei ele pra roça pra usá nas horas das necessidade e nem prá isso ele serviu.

- Caos de quê cumpade?

- Depois de usado ele ficou manchado de sangue.

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 07/01/2011
Código do texto: T2715230
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