UM COMPADRE DESCONFIADO
- Bão cumpade?
- Bamo levano.
- E o Natar, cumo foi?
- Uai, teve inté bão cumpade.
- Caos de quê?
- Minha muié vazô lá pas terra da mãe dela.
- Cê ficô suzinho cumpade?
- Fiquei.
- Munto triste não?
- Só cum sardade dos fio mais o coração véio já tá ficano calejado.
- Caos de quê sê num foi junto?
- Pricisa respondê cumpade?
- Acho que não, deixa pra lá. Mais hoje na passage de ano, cê vai fazê o quê?
- Vô armá umas rede prá distraí as idéia.
- E a musquitada?
- Hora ques atentá munto eu venho pra casa vê aquele povo corrê na televisão.
- Programão hein cumpade?
- Fazê o quê né? Fim da vida da gente é essa bobage memo.
- Aquilo lá só tem uma turma que ganha!
- É memo. Mais cumo ganhá daques magrelo da perna cumprida, né memo?
- Meu falecido pai falava ques corria daquele jeito proque eram treinado a corrê de leão e da onça.
- Só de leão cumpade.
- Num intendi.
- É atrais da onça ques corre.
- Ah... dinheiro né cumpade.
- Isso memo.
- Mais de vêis inquando ganha argum brasileiro...
- Marmelada cumpade... Ganhá daques africano só se pô uma bateria nas perna...
- Mais antão praques faiz a corrida cumpade, se nóis num pode ganhá?
- Finar de ano cumpade...
- Num intendi...
- Os jogadores de futebor tão descansano...
- Continuo sem intendê cumpade...
- Sem futebor, a mídia fica sem muito como faturá, antão fica inventano moda pra fazê a tar da propaganda...
- Ah... É a onça fazeno cosquinha, né cumpade?
- Antão...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES