O FANFARRÃO MENTIROSO

Belizário era um rapaz de meia idade, nunca casou talvez até pelo seu jeito matuto e simplório, porem gostava mesmo era de contar papo, roçava ser corajoso e que não tinha medo de assombração, sé é que elas existam de fato, estava sempre contando suas lorotas mas que na realidade era um medroso de mão cheia.

Vai dai que reuniram um bando de rapazes e certa noite, no botequim da praça, já passava de meia noite e o seu Manoel, dono do estabelecimento contava causos de assombração desde os tempos de sua juventude, quando viera para o Brasil e fora morar numa fazenda onde, segundo ele, o lugar era mais feio do que briga de cego no escuro, momento em que chega Belizário e põe a assuntar os causos e não demorando para meter a colher no meio.

______Num lugar deste que eu gostaria de morar, não tenho medo de nada e inté se for preciso ir no cemitério a qualquer hora, pois eu vou sem receio algum, a gente tem que tê medo dos vivos, os mortos coitadinhos, não fazem mal a ninguém.

Foi a conta de Belizário se vangloriar, a Bentinho, um rapaz muito esperto malvado e atrevido já propôs uma aposta: O Belizário deviria ira até o cemitério, pregar uma tabuleta na cruz do Anjo Mudo, um tumulo abandonado que existia no canto do pequeno cemitério da cidadezinha, a tabuleta foi feita em papelão e escrita na hora com os dizeres - estive aqui. No dia seguinte bem cedinho iriam vistoriar o serviço, se Belizário cumprisse a tarefa ele daria 2 contos de réis, um bom dinheiro mas porem se fizesse conforme combinado, Belizário deveria trabalhar de graça na fazenda de seu pai por um ano.

Pobre Belizário nunca esperava uma afronta destas pois se não fosse seria desmascarado e ir ao cemitério àquela hora, numa noite escura, fria e chuvosa como aquela era de arrepiar das cabeças aos pés. Levado pelo orgulho, o rapaz topa a aposta, veste o seu casaco e para lá segue com pregos a tabuleta e um martelo que foram providenciados na hora. Após alguns minutos de sua saída, sorrateiramente saíram também os demais para sondar a coragem de Belizário que seguia para o cemitério carregando um pequeno lampião de querosene para clarear as estrada, eles porem seguiam atrás, na escuridão, mantendo certa distancia orientados pelo foco luz do lampião de Belizário que morrendo de medo nada percebia.

O cemitério era um lugar ermo, descampado, relativamente longe de qualquer residência e tinha a fama de local mal assobrado, talvez por respeito imposto pelos mais antigos, verdade é que Belizário se aproximou de vez e adentrou pelo cerca de balaustre que circundava o espaço do campo santo e quase correndo foi em direção ao famigerado tumulo e logo se ouviu o barulho das marteladas, umas três ou quatro, breve silencio e a voz afobada de Belizário

________ Me solta!... Me solta! ... Me soltaaaa...

Apesar de estar em um grupo, até os rapazes ficaram ressabiados, sendo que alguns saíram correndo de volta para o povoado e não puderam presenciar o desespero de Belizário, que sem querer, movido pelo pavor ao pregar as tabuleta na cruz indicada, pregou também o seu casco, ao levantar, sentindo agarrado por algo sobre natural gritou e saiu em disparada rumo da saída onde o grupo o espiava carregando pregado em seu casaco, a velha cruz de madeira que identificava o tumulo do falecido e afamado Anjo Mudo.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 14/11/2010
Reeditado em 15/11/2010
Código do texto: T2614289
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