PAIS & FILHOS
PAIS & FILHOS
Filho, com seis anos de idade olhando a prefeitura de sua cidade, toda enfeitada para o Natal, disse:
_Que casa grande e bonita pai!
_Aqui é a nossa prefeitura, meu filho.
_Mora alguém aí?
_Morar mesmo, não mora não. É aí que trabalham o prefeito, seus acessores, os funcionários da prefeitura e os vereadores.
_O que eles fazem?
_Eles administram a cidade em todos os problemas que ela tem.
Filho, com dez anos de idade, passeando com o pai na Capital do Estado:
_ Pai, que palácio é esse?
_ É o palácio do governador, meu filho.
_ Ele deve ser muito rico, não é pai, para ter um palácio desse no centro da cidade?
_ Não meu filho, este palácio é do povo, ele fica aí só quando está governando o estado.
_ Ah pai, então quando eu crescer quero ser governador só para morar num palácio desse.
_ Não meu filho, quem mora neste palácio é eleito pelo povo, assim como os deputados, para defenderem os interesses do estado como um todo.
Filho, com seus dezoito anos, passeando com seu pai em Brasília:
_ Como a gente está na capital do país, todos esses prédios bonitos devem ser do Presidente, dos deputados federais, dos ministros, todos nos defendendo, não é pai?
Pai, que sempre foi contra qualquer coisa de esquerda, meio cabisbaixo:
_ É meu filho.
_ Foi um mineiro como nós que fez tudo isso, não é pai?
_ Foi meu filho.
_ Até que ele teve uma ótima idéia, não teve pai?
Pai, mais triste ainda:
_ Teve meu filho.
Filho com seus vinte anos, levando seu pai para operar do coração em São Paulo. No primeiro sinal de trânsito foram assaltados. Filho, muito revoltado:
_ Será que esta cidade não tem prefeito?
Pai, sem conseguir nem falar direito:
_ Acho que não, meu filho.
Quando chegaram no hospital descobriram que só tinha vaga para um ano depois. O filho, louco de raiva:
_ Uns anos atrás, o senhor me falou que aqueles prédios bonitos de Brasília não eram para abrigar pessoas que defendessem nossos direitos?
Pai, no fim da vida, sem saber muito bem o que estava falando:
_ Eu só pensei isto mas acho que não falei.
Filho, voltando para Minas, depois de estourar dois pneus numa esburacada estrada mineira, sem dinheiro no bolso porque foi assaltado em São Paulo e seu pai agonizando no banco de trás:
_ E agora, meu pai? Quem vai nos socorrer?
De repente, aparece um mineiro, leva seu pai a um hospital, arruma os pneus de seu carro, lhe empresta dinheiro para acabar de chegar em casa. Depois de agradecer a Deus por ter chegado vivo, segurando a mão de seu pai prestes a morrer, perguntou:
_ Em quem devo votar na próxima eleição, meu pai?
Pai, sem conseguir falar, pediu uma caneta e escreveu:
_ Vote em alguma entidade filantrópica, meu filho.
JOSÉ EDUARDO ANTUNES