UM CABOCLINHO SIMPLÓRIO

No bairro morava um homem por nome de Lindolfo, muito conhecido por todos, morador antigo, diga-se de passagem, nascido e criado naqueles cafundó, tinha um grande propriedade, não chegava ser uma fazenda, mas era bem situado na vida e muito dado com todos, tendo na verdade um grau de compadrio com a maioria dos habitantes do bairro e adjacências mas apesar de tudo tinha um defeito, era muito mulherengo e sua fama era conhecida em toda redondeza pois vivia na região correndo atrás das mulheres da vida.

No mesmo bairro morava um caboclinho muito humilde e simplório, era um rapaz ainda novo que casou com uma mulher que tinha, pelas línguas do povo, o dobro de sua idade, gorda, alta, seios fartos e a bem da verdade, um tanto desleixada nos cuidados com a aparência, mas viviam bem até que certo dia uma bondosa alma, (ou maldosa) foi ter com o caboclinho e alertou que Lindolfo, o compadre que ele tanto prezava e elogiava estava tendo um caso com a sua esposa e que quase todo dia ao sair de casa para o trabalho, o mulherengo se achegava em casa e era muito bem acolhido, saindo de lá só horas depois.

O caboclinho, fiel a sua esposa no primeiro momento não acreditou no linguarudo que dias após dias, insistia na denuncia e como o pobre homem não tomava uma atitude, ele querendo ver o circo pegar fogo certo dia, alem da fofoca, sugeriu ao caboclinho que ao sair para o serviço, escondesse e aguardasse alguns momentos pois o compadre mulherengo não tardaria chegar e ai sim, ele pagaria os dois no fragrante, o rapaz ouviu tudo calmo, e como sempre não disse nem sim nem não mas como diz o ditado “água mole tanto bate em pedra dura, até que um dia fura”, cansado deste falatório resolveu tirar a limpo esta historia.

No dia seguinte, apesar de estar com a consciência pesada pois essa coisa de espiar a mulher não fazia o seu feitio, considerava isso uma ofensa a esposa mas fez o que o suposto amigo havia sugerido, e este informado do ocorrido e ávido por saber o resultado, a tardinha foi ao encontro do caboclinho indagando.

__ E daí meu amigo, fez aquilo?

O caboclinho muito humilde respondeu:

__ tô morreno de vergonha!

__ Então pegou os dois no fraga, me conta, como foi?

O caboclinho começou a pormenorizar, contando detalhes por detalhes daquilo que infelizmente seus olhos viram naquela manhã:

__ Pois oiá, sai di casa, fingi í pra roça mais quar o que, fiquei iscondido atrais do paió di mio, pois num é que num demoro muito compadre Lindorfo chego conforme vosmice havida dito. A muié muito acoedora que é, já levo ele pra casa, intão-se eu fui pè anti pé, pra não faze baruiô, e pela fresta já jinela da sala, ispiei, num vi os dois, fui na jinela da cuzinha, tamem nun tava lá, mais quando cheguei na jinela do quarto, ai quase tive um treco, cumpadri Lindorfo tava di pé, a muié tiro a brusa e quando tirô seutião as peitaria dispencaram todas indo pará prabaixo dusumbigo, adepois, tiro a saia e apareceu aquelas pernona piluda qui nem um cachaço véio, tudo cheia de istria e incaroçada de vazirizis mais adepois, foi quando ela se preparô pra tira as carçola, ai quase me deu um trôço, ahhh, num aguentei...

O amigo fofoqueiro que também já não continha de tanta curiosidade, adiantou.

__ já sei, arrebentou a porta e pegou os dois no fraga.

A caboclinho cabisbaixo arrematou:

__ Qui nada, sai di fininnho o mais dipressa dali, fiquei morreno de vergonha do cumpadre Lindorfo, sô!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 06/11/2010
Reeditado em 31/05/2011
Código do texto: T2600264
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