O Coronel em.(JA fui cangaceiro.)
O coronel estava escapelando peixe em sua varanda quando recebe a visita do padre Gouvêa, novo na paróquia da cidade.
E querendo conhecer melhor os paroquianos passou pela casa do coronel.
-Sua bênção padre. vamo se achegando, não carece ficar ai de pé.
_Bem, obrigado coronel. Confesso que fiquei ansioso em conhecelo, ouvi muito sobre o senhor. Foi dizendo o jovem padre enquanto se ajeitava na cadeira. mais coronel como é mesmo seu nome.todos o chamam de coronel,mais ninguém sabe seu nome.
_Como não?Respondeu o coronel. todos sabem que meu nome é.......
_O meu velho, o novo padre chega e tu não me chama. diz Maria entrando na varanda.
Sua bênção padre acabei de fazer um suco vou buscar pro senhor.
_Então coronel, o senhor sempre foi do exercito?Perguntou o padre mais pra puxar conversa.
_Sou do nordeste seu padre. onde a terra era tão seca que vaca dava leite em pó,num sabe.
Comecei a trabalhar cedo, eu trabalhava num engenho de cana. Recebia o salário em rapadura, num sabe. ate o dia que o canavial foi destruído pela volante que dizia que o seu lazinho, o dono do engenho. destilava cachaça para os cangaceiros.bem fiquei sem o único emprego que tinha num sabe.então resolvi seguir pro cangaço.
-O senhor já foi do cangaço?????
_Coisa pouca bobageira nem carece de contar.
_Por favor ,coronel .eu gostaria de ouvir ,na verdade não perderia por nada.
_pois bem foi assim.
Naquele tempo no sertão só tinha duas profissões, num sabe. Ou era cangaceiro ou era macaco da volante. Eu por alguns motivos que prefiro agora não contar virei cangaceiro. Um dia conto, hoje não.
_O senhor foi cangaceiro, quem diria?Disse o padre admirado.
_Pois foi o que eu disse, não foi?Estava no bando do capitão macaxeira. Muito respeitado e amigo pessoal de virgulino, eu o conheci quando ele era um jagunço sobrevivente de canudos, num sabe.
_Incrível! O senhor não parece tão velho, coronel. No entanto fez parte da estória do Brasil.
_Bondade sua padre. Mais eu duvido que hoje alguém saiba o que houve em canudos. Nem quem foram as volantes ou os cangaceiros. Hoje as pessoas só pensam nessas bobageiras de TV, como as novelas.
Não se senta mais a noite pra prosear e falar dos acontecidos. essa juventude só pensa no agora.no amanhã, só pensaram amanhã.no ontem vige, nem pensar já passou.
Bem como já disse eu era do bando do capitão macaxeira. Homem muito bom, num sabe. Ajudava muita gente, era humilde. A volante não o perseguia por que ele não tinha ouro ou qualquer tipo de jóia. pois a volante era assim,num tava interesada na ordem e justiça. Cobiçava era o ouro dos cangaceiros.
Muitos tinham mais medo da volante que dos cangaceiros. Mais também tinha os que temiam os cangaceiros. Eram os ricos e proprietários de terras, num sabe.
Pois os cangaceiros chegam e levavam tudo, uns dividiam com o povo outros com o bando.
O nosso bando dividia com os que não tinham, uma parte ia à virgulino, como era o combinado.
Um dia capitão macaxeira recebeu uma carta de virgulino. E ficou dois dias olhando a carta. Por fim disse a um dos cabras.
___Sebo!Traga Getuio aqui.
--Num é Getuio não capitão, é presidente. Respondeu rindo o tal do sebo.
_E quem é o presidente, cabra?Perguntou enquanto amolava a peixeira.
_É ...Getuio,capitão.
_Então não me apoquente e traga o cabra!E se der mais uma risadinha dessas vai rir pro capeta. Vá logo!
__Bem naquele tempo eu era conhecido como presidente. Qualquer dia eu conto a estória, isso não vem ao caso agora. O capitão macaxeira pediu que eu entrasse em sua tenda me entregou a carta e disse.__leia pra mim, que esqueci meus óculos.
É claro que ele não sabia ler, na verdade eu era o único que tinha leitura.
A carta dizia para que ele invadisse a fazenda Dourados. Que ficava na cidade de...........
E assim levantamos acampamento e fomos, pois ordem de virgulino não se discute.
Ao chegarmos à fazenda fomos recebidos a bala. Foram três dias de cerco a fazenda, não sabe.
No quarto dia resolveram se render, capitão macaxeira vestiu sua melhor vestimenta e entrou montado nas costas dum dos capatazes da fazenda,e ainda fazia questão de bater com as esporas e queria que o jagunço relinchasse.
Nós entramos com tochas nas mãos o capitão estava com intenção de tocar fogo em tudo, pra dar exemplo. O dono da fazenda estava de joelhos implorando clemência, sua esposa estava em prantos. eu então fui até o capitão e lembrei o que dizia a carta.ele então ordenou .
_Tragam tudo de valor, vamos ver o que essa gente esconde. Tragam também todas as mulheres.
Os cabras nem esperaram novas ordens, foram logo pilhando tudo.
E enquanto juntavam as mulheres, alguns ate brigavam pelas mais belas. Precisou da intervenção do capitão macaxeira pra acabar com a disputa.
_As raparigas ficam na minha responsabilidade. Disse macaxeira aos cabras.ele queria protegelas.
_Mais capitão......... Disse folha seca faz mês que num vejo uma quenga.
-EU tumem, capitão num guento mais. Reclamou também o outro chamado Zoinho.
_Então os cabras querem chambregar Ehm??Me dêem cá os punhal. Agora borá luta os dois, o que perder será a rapariga do outro.
No fim os cabras tiveram de lutar, palavra do capitão macaxeira era lei.
Zoinho quem perdeu e teve de ser mulherzinha de folha seca, usou um belo vestido de chita, ficou uma belezura num sabe. depois disso ninguém mais quis discutir as ordens do capitão.
Ele então chamou os donos da fazenda ,porque eram dois .
e pediu que fosse feito um banquete em homenagem ao capitão virgulino rei do cangaço e assim foi feito num sabe. foi uma festança.
Tudo ia muito bem , festa animada. Mãe Santana que era conhecedora dos músicos dali trouxe um sanfoneiro chamado “Pai Januário” da cidade de exu.
Mais como sempre onde tem bebida e cangaceiro, sempre tem briga. Dessa vez não foi diferente, na briga “Pai Januário” cortou a mão e não pode mais tocar.
Não é preciso comentar que o capitão macaxeira soltou fogo pelas ventas e já ia sangrar os cabras que acabaram com a diversão quando foi impedido por mãe Santana.
__Carece isso não capitão. Foi ate mio, e o mio é o que merece o capitão.
Tenho outro sanfoneiro, o filho desse ai. oia ele ali cuidano da sanfona do pai.
_Aquele muliquim?Disse o capitão macaxeira surpreso.
_LULA!O LULA ,bora cá. gritou mãe Santana para o filho de Januario.
_to aqui. disse o pequeno lula.
_Mostra ao capitão que tu sabe tocar sanfona.
Então aquele pequeno menino começou a tocar.
e assim que os acordes foram penetrando nos ouvidos do velho capitão...
Olha posso ate jurar que vi escorrendo uma lagrima daqueles velhos olhos secos.
E enquanto o garoto tocava ,a lua ia subindo pelas suas costas iluminando a sanfona e e pairou no ceu formando uma auréola em sua cabeça.
Com a visao divina o coronel macaxeira disse._Bem pequeno lua, já me convenceu. Falou enquanto sorria ,coisa rara no capitão.
__É lua não capitão. é lula.disse Sebo aproveitando que ele sorria.
_Cabra eu to dizeno que o nome dele é´LUA. O MAIOR SANFONEIRO NORDESTINO. `` E AI SE ARGUEM MUDÁ.
E foi assim que Luiz Gonzaga ganhou o apelido de lua, num sabe.
_Desculpa coronel, mais eu pensei que ele tinha recebido esse apelido na radio nacional. Disse o padre meio incrédulo.
_E também foi. Respondeu o coronel. É que naquela noite o capitão macaxeira estava no auditório, e Paulo Gracindo já sabendo da estória só fez é confirmar. também o capitão afiava apeixeira, num sabe.