E ERA ASSIM LÁ NA ROÇA

Hoje as coisas estão mudadas, a tecnologia chegou e com ela o conhecimento e as mudanças mas a poucos anos atrás, não mais que meio século, as coisas eram bem diferentes, era uma época que não existiam tantos recursos, tanto de material, como de pessoal especializado no trato com a pessoa, esta era a realidade até dos grandes centros urbanos, imagine numa pequena e pacata cidade interiorana e então o que dizer de uma localidade localizada no meio do mato, lugar ermo e retirado do pequeno povoado que era a cede do município. Gastava-se o dia todo para ir ao patrimônio para comprar os bens de primeira necessidade e que não eram produzidos na roça, entre os quais o querosene, fonte de luz nas noites do sertão, o açúcar, se bem que algumas pessoas tinham o costume de produzir o seu próprio açúcar aqui mesmo na roça, o sal e algumas ferramentas essenciais ao trabalho na lavoura, do mais tudo era produzido na roça mesmo. Quando alguma pessoa adoecia, ou procurava a cura através de rezas, benzimentos e remédios populares amplamente difundido no meio rural, ou então, deslocava-se até a cidade e fazia a consulta com um perito farmacêutico, dono da única farmácia do patrimônio, onde era receitados os remédios que consistiam em pílulas, comprimidos, xaropes e vez por outra, o remédio infalível: as temíveis injeções.

Quando a doença era grave, do ponto de vista do farmacêutico e a escolha do medicamento recaia sobre a aplicação de injeções o enfermo tinha duas opções: ou ficava no período de tratamento no patrimônio na casa de algum parente ou amigo ou comprava os medicamentos e trazia para casa, onde algum leigo do próprio bairro ou vizinhança as aplicava.

Meu pai era um deles, tinha as seus apetrechos para aplicação de injeções que consistiam em estojos de aço onde eram guardadas as seringa hipodérmicas, popularmente chamadas de seringas de vidro e as agulhas de vários calibre, Momentos antes de aplicar a injeção era preciso ferver as seringas, ou seja, esterilizar e para isso utilizava-se do estojo que tornavam um pequeno fogareiro, sua tampa era o deposito de álcool, existia uma peça que servia de suporte para o estojo onde eram depositas as seringas e agulhas mergulhadas em água, ateava fogo no álcool que em pouco tempo fazia água entrar em ebulição, e supostamente esterilizando a seringa, deixando-a pronta para ser utilizada enfim, esta era a técnica utilizada naquela época e que meu pai a seguia rigorosamente a cada injeção a ser aplicada e não eram poucas, pois ele era o único do bairro que sabia aplicar injeções tanto no músculo como na veia, e cheguei a ouvir comentários de alguns caboclos mais humildes dizendo, como se a medicina fosse algo tão simples:

___ Tamém seu Zé, logo sinhô vira dotô.

O velho ria e embora soubesse que as coisas não eram assim pois de medicina na realidade ele nada entendia mas dava pra ver que sentia lisonjeado com tais comentários.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 30/10/2010
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