A DESGRAÇA DA COMADRE

Os dois compadres já haviam criados os filhos que deixavam tomando conta da lavouras e um dia iam para o povoado, outro dia para a vendinha do bairro, ora as caças, ora as pescarias, mas eram companheiros inseparáveis e jamais imaginavam algum dia iriam se separar mas como não podemos mandar em nossa vidas, certo dia combinaram uma caçada de perdizes numa palhada bem distante de onde moravam. Prepararam tudo com esmero de caçador, afinal nada podia dar errado e tempo para isso eles tinham de sobra, limparam e engraxaram as cartucheiras, chamaram os três cachorros perdigueiros que igualmente não se largavam, arriaram bem os cavalos, pegaram suas matulas de caça e na madrugada do dia marcado para lá rumaram.

Mal sabiam eles que aquele dia Noé era da caça, andaram, andaram e nada de encontrar uma avezinha sequer, já passava do meio dia quando um dos compadres começou a reclamar que não estava se sentindo bem, queixou de fortes dores no peito, perdeu a cor, se aconchegou a sombra de uma arvore e ali mesmo expirou. O outro apavorado ainda tentou chamá-lo pelo nome, chamou umas duas ou três vezes, mas qual o que, pois não é que o compadre havia morrido mesmo. Que difícil situação, como o que não tem remédio, remediado está, o negocio agora era levá-lo para a delegacia, visto que a morte ocorrera em circunstancias adversas, para que se providenciasse as documentações necessárias para o guardamento do corpo e posterior sepultamento, porem o mais difícil seria dar a noticia a família, com que cara iria chegar na comadre para informar que o compadre havia morrido derrepente.

Depois das condutas de praxe no povoado, retornou para casa matutando pelo caminho como dar tal noticia a comadre, pois conhecendo-a como conhecia, seria um escândalo só. Chegando na propriedade do compadre sozinho montado em seu alazão, acompanhado pelos cachorros, e puxando o outro animal arreado pelo cabresto a comadre que estava no terreiro trajando um vestido longo e que apesar da prole toda criada, não é que a danada era uma bela e fogosa senhora e o que ele jamais supunha era que ela não estivesse usando nada por debaixo do vestido, veio ressabiada ao encontro para se inteirar do ocorrido, visto que o outro cavalo estava sem o cavaleiro.

O compadre, apesar de ter minuciosamente ensaiado este momento pelo caminho, não se conteve e sem rodeios contou o ocorrido a mulher que como era de se esperar se desesperou e aprontou o maior berreiro ali no terreiro, conseqüentemente e não se sabe o que levou a fazer isso, levantou a saia do vestido, jogou sobre a cabeça, deixando tudo o mais a mostra e perguntou aos prantos:

__ Cumpadre do céu! O senhor já viu uma disgraça maior do que a minha?

Encabulado o sertanejo, que apesar da tristeza do momento, até esqueceu do ocorrido e não teve como não olhar aquela linda cena que se deparou em frente aos olhos, boquiaberto respondeu:

__ Pois oia comadre! Pra dize bem a verdade, disgraça maió do que esta, oiando assim, só memo a da vaca mimosa.

Afinal de conta, “home é home e gato é um bicho”, já dizia um finado bebum de nossa região.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 08/10/2010
Reeditado em 16/02/2016
Código do texto: T2545842
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