UM CABOCLO CARA DE PAU
Certa vez estavam numa derrubada de matas la no alto da propriedade, distante mais ou menos umas 600 braças da casa do patrão e por volta da dez horas da manhã Sinhaninha a filha mais velha do patrão e uma das filhas de um de seus agregados subiram ao espigão arriba acompanhadas pelos dois cães perdigueiros que as serviam de guarda, levavam na cabeça uma matula contendo o almoço dos trabalhadores na roçada, ao todo quatro pessoas. Os trabalhadores ao verem as jovens aproximando, imediatamente foram deixando foices e machados a parte, procurando se aconchegar a sobra de uma centenária Perobeira que ficava a beira do caminho para e que haviam preservado na derrubada, para o sagrado momento da refeição, visto que estavam mortos de fome. O Patrão ainda interrogou a filha:
______ O que aconteceu, sua mãe esta querendo nos matar de fome!
Maneiras de sertanejo, visto que o almoço costumeiramente acontece por volta da nove horas da manhã. As meninas porem não responderam nada e o velho patrão também não as destratou, pois sabia que se houve atraso, com certeza não fora proposital e acomodados todos se fartavam com a suculento alimento, conversavam sobre assuntos diversos, desde o marimbondo que acabou picando um dos trabalhadores e até mesmo algumas lorotas lá do vilarejo. Sinhaninha e a outra moça aguardava quieta no seu canto, enquanto os cachorros corriam de um lado para o outro varejando aqui e acolá ta procura de alguma caça.
Terminada a refeição, as moças e os cães retornaram para casa, saciados os trabalhadores se estatelaram a sombra da arvore para um merecido cochilo, o patrão, a beira do caminho que levava para o pequeno patrimônio, permanecia em alerta, mais acordado do que nunca e foi quando Chico Mulato, um negro ainda jovem, bem apessoado, metido num elegante terno de linho, trajes do negro que não desprezava um bom alfaiate, não era chegado ao trabalho mas todo dinheirinho que ganhava com o trabalho diário era gastos na compra de boas roupas, alegremente cumprimentou a todos com um “Bom dia” e a resposta saiu quase como automaticamente
________ Bom dia Chico!
Um pequeno instante de silencio seguiu até ser quebrado pelo patrão, grande conhecido do Chico:
________ Uéh Chico! Onde ta indo tão bem aprumado assim ?
Chico dá uma ajeitada na gola da camisa, um sorriso sacana e com trejeito caboclo responde:
________ No patrimônio sô. Hoje começa a festa de Santo Reis do Toninho Tibiriçá e o nego véio aqui num pode perdê essa por nada.
O patrão, dono de uma certa intimidade com o negro o repreende:
________ Você não cria jeito de gente mesmo Chico, em pleno dia de semana, uma quinta feira braba destas, com tanto serviço por ai, você anda correndo atrás de festa de Santo Reis. Cria vergonha homem e vem trabalha.
Ignorando o puxão de orelha do homem, com um jeito irônico Chico ainda pergunta:
________ E oceis, o que tão fazeno sentados na sombra a essa hora? Assim esta derrubada num termina nunca.
Zé moreno, homem sério mas que tem uma fina forma de tratar as pessoas, retruca:
________ Acabamos de almoçar, a propósito, você não quer almoçar?
O Nego olha para o sol, matuta alguns segundo e esculachado que era responde
________ Pois ocê sabe que não é má idéia, inté vô comê um pouquinho memo.
O sitiante que havia feito o convite por cortesia pois tinha por habito oferecer comida as pessoas na hora das refeições, jamais esperava um sim por parte do transeunte pois com adiantado da hora Chico deveria ter almoçado em casa antes de sair alem do que, sabia que não tinha mais comida e a filha com a outra menina até já haviam ido embora, assim se viu no mato sem cachorro mas aproveitando a cara de pau de Chico mulato, sem receio algum retrucou:
________ É Chico!, mas só que a comida acabou!