BEM VINDA A IRMÃ MORTE

Conta-se que ha muitos e muitos séculos atrás existiu um homem muito temente a Deus e procedia retamente, obedecendo os mandamentos e vivendo uma vida exemplar diante do Senhor Todo Poderoso, tanto que gozava de certa intimidade com ele. Certa vez, caminhando numa praia deserta, enquanto observava a exuberância do mar, a agilidade das gaivotas e a beleza da natureza, passou a meditar sobre a vida e a morte, chegou a conclusão que a vida sim, esta era bela e precisava ser vivida com toda intensidade, logicamente respeitando os preceitos do Senhor Deus, o criador de todas esta maravilhas, o que são sessenta, oitenta ou até mesmo cem anos para um ser humano, um espaço de tempo breve ante a magnitude da vida e filosoficamente imaginou que a morte sim, esta era algo aterrorizador, o fim desta vida material, não entendendo como Deus, que fez tudo perfeito pode fazer algo tão horripilante e, depois de muito reflexão, chegou a conclusão que Deus deveria rever a criação e o mundo com certeza ficaria muito mais feliz se a morte fosse banida da face da terra para sempre.

Diante desta opinião formada frente a famigerada morte, convicto de que estava com a razão, resolveu pedir uma audiência com Deus, e explicar o resultado de sua reflexão, sendo uma pessoa muita amada pelo criador, foi prontamente atendido em seu pedido. Lá chegando foi logo criticando a morte, apresentou e apresentou seus argumentos e o seu ponto de vista, Deus ainda tentou justificar, mas o homem insistente pediu para que Deus prendesse a morte em algum lugar.

O Todo Poderoso, apesar da certeza de que tudo que fizera nos primórdios dos tempos estava nos seus devidos lugares e tinha seus devidos valores, inclusive a morte, mas um pedido vindo de uma pessoa tão ilustre como aquela, não poderia deixar de atender, assim decidiu prender a morte em um garrafão e a partir desta data, nenhuma pessoa mais morreu na face da terra.

Passaram-se os anos, talvez duas ou três décadas e nada da morte ceifar vidas, o homem orgulhosos de seu nobre proceder, como a tempos não ouvia rumores da morte, o que lhe deu a certeza de que a humanidade estava vivendo muito feliz, certo dia saiu a bisbilhotar a natureza na esperança de vanglorias de seu pedido mas o que viu o deixou decepcionado. Uma arvore havia caído sobre um homem, que gemia de dores esmagado pelo enorme tronco de madeira, pedia a morte porem ela não vinha aliviar a sua dor; um ancião já sem forças em suas pernas e devida ao avanço da idade, vivia tudo na dependência de outra pessoa, pedia a morte para descansar, e nada da morte aparecer; um jovem num acidente perdeu as duas penas, vivia rolando sobre a terra, pedia a morte e nada da morte livrá-lo do sofrimento. Assim foram passando cenas sobre cenas, cada uma mais escabrosa que a outra e eram milhares e milhares de pessoas que já não tinham mais condições de sobreviver e sofriam as conseqüências da ausência da morte sobre a face da terra, pois a seu pedido ela permanecia presa num garrafão na casa do Todo Poderoso.

Decepcionado contigo mesmo e percebendo o grande erro praticado, reconhecendo neste instante ser Deus o autor da vida e da morte, imediatamente pediu outra audiência, ao que o Criador prontamente o atendeu, depois de muito se desculpar, pediu que Deus libertasse a morte para que ele pudesse cumprir o seu papel. Desde então a morte voltou a reinar na face da terra, não destruindo vidas como se tudo fosse o fim mas transpondo-as para a eternidade no reino dos céus.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 29/09/2010
Código do texto: T2528659
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