Mascote do Batalhão

Desde garoto que sou um tanto “biqueiro” para comer, minha preferência por comidas é a mais simples possível, em vez de pratos sofisticados, prefiro o trivial, quanto mais simples melhor. Quando estava no exercito, por mais que me esforçar-se não conseguia comer a “gororoba” do quartel, não que a comida fosse de má qualidade, mas, o certo é que eu não conseguia. Para resolver esta situação, todas as vezes que entrava de serviço, minha mãe mandava deixar o meu almoço no quartel. Quem fazia o transporte da marmita era a nossa cozinheira “Pretinha”.

Pretinha na epoca era uma garota de uns 21 anos, uma espécime rara que o continente negro nos presenteou. Tinha a boca pequena e lábios carnudos, nariz arrebitado, cintura fina, busto e quadris empinados e pernas torneadsas. . Em resumo uma verdadeira “Vênus de Millus” de ébano. Para confirmar esta condição, pretendentes a sua mão eram que não faltavam todas as noites na porta da casa da minha mãe. Quando ela queria se enfeitar, sempre colocava no topo da cabeça, um pequeno laço verde, feito com de veludo.

Todas as vezes que Pretinha chegava ao 7º Batalhão de Engenharia (batalhão onde servi ao exercito) trazendo o meu almoço, não precisava ninguém me avisar da sua chegada, de onde eu estivesse no quartel, dava perfeitamente para perceber a sua chegada, a soldadesca ficava assanhada , todos corriam para junto ao portão do Corpo da Guarda, só para ver a “Pretinha” passar. Ela sabendo do seu poder de fogo, caminhava faceira entre os soldados, rebolando os quadris, tal qual as “Mulatas do Sargentelli” levando na mão a marmita do cabo 189 (no caso eu)., Com aquelas constantes idas ao quartel, ele se tornara uma espécie de mascote do 7º B.E.

Pretinha o que tinha de bonita, tinha de vadia, quase todo dia trocava de namorado, quando alguém da minha casa reclamava, ela costumava dizer:

- Meu ex-marido Zé, disse que eu sou dou mesmo é pra “loiceira” !

Certa vez Pretinha se encontrava varrendo a garagem da casa da minha mãe, quando de repente passou a gritar desesperadamente, pedindo socorro. Era um dia de domingo e nós estávamos na copa tomando o nosso café da manhã. Quando ouvimos os seus gritos, eu e meu pai nos levantamos da mesa e corremos em direção a garagem em socorro da moça. Lá chegando encontramos a Pretinha trepada em cima de um caixote onde o meu pai guardava as suas ferramentas, com a saia presa entre as pernas, ela gritava como uma desvalida, Ao nos ver, passou a apontar para o chão gritando

- Olha a Cobra ! OLHA A COBRA !

Bem próximo ao caixão uma cobrinha de duas cabeças, que em outras palavras e uma minhoca metida a besta, se arrastava vagarosamente. Meu pai que pegava em tudo que, andasse, voasse, nadasse ou rastejasse, da de garra a cobrinha com uma das mão atirando-a no jardim. Pretinha salva do grande perigo pára imediatamente de gritar. Meu pai com cara de poucos amigos, olha para a moça, e. . .

Deixa de cavilação menina, você com medo duma cobrinha tamnho de nada, e não tem medo da cobra dos homens !

Aquilo foi demais para ela, naquele mesmo dia o 7º Batalhão de Engenharia havia perdido a sua mascote. Petinha pedira demissão. . .