O sapato
Esta é uma história verdadeira, aconteceu com um amigo de um amigo meu. Lembro-me exatamente da expressão facial de quem me contou. Contava cada detalhe com uma empolgação sarcástica e com um humor nostálgico, como se fosse ele próprio o protagonista. A história já tem alguns anos, mas sobreviveu todo esse tempo na memória do próprio personagem e dos que ouviram os fatos narrados oralmente. Inclusive eu.
Não me especificaram nem o ano nem o mês, mas o protagonista, que o chamaremos pelo nome legítimo de Caio, dissera que na época estava estudando o ensino fundamental numa dessas escolas de freiras.
- “A linha era dura lá e eu já não agüentava mais.”-obs:estava na instituição de ensino mais ou menos 2 meses.-“Eu e meu camarada combinamos um plano, simples e rápido além de ser diversão barata...”-literalmente-“...arranjamos um sapato velho e somos até uma casa abandonada um dia depois da aula.”
Minha cara tinha um ponto de interrogação em cima, o que dois moleques iam fazer com um sapato e uma visita a uma casa abandonada? Planos exóticos? Veremos.
-“ Chegamos na casa, colocamos luvas de látex e começamos a caçar baratas, o que tinha de monte, até encher o sapato. Tampamos o buraco com durex e escondemos numa caixa bem discreta.”
Minha expectativa aumentava, mas o que eu previa parecia tão absurdo que quase desisti de ouvir, pensando que era uma farsa.
- “No dia seguinte iríamos ter prova de química e aconteceu que quando todos estavam com a prova e em silêncio, num dado momento em que a professora se virou, joguei o sapato recheado de baratas gigantes e peludas na frente da sala, o durex se rompeu e os insetos urbanos saíram a mil, como numa erupção de vulcão, e em questão de segundos enquanto tudo acontecia joguei o sapato pela janela, pois sentava perto.”
Eu ouvi isso e cai na gargalhada, imaginando a cena, bons tempos. Mas a malícia da história é que ninguém viu quem jogou o sapato premiado e ninguém foi punido.