Profecia da Cigana
Odilon era um sertanejo de Riacho dos Cavalos - PB., proprietário de uma fazenda de mais de 2.000 há, localizada as margens da PB-317. Ele vivia da pecuária e tinha para mais de 1.500 cabeças de gado. Acontece que Odilon era o oposto daquela famosa frase de Euclides da Cunha, no seu livro Os Sertões que diz: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Odilon herdara a fazenda dos seus antepassados, era um sujeito pacato até demais, nunca se metera em encrencas com os vizinhos e para não ter problemas na vida, nunca se casara. Odilon só tinha um defeito, era muito supersticioso e levava aquilo muito a sério o “cara” não passava por baixo de escadas, evitava cruzar com um gato preto, não tomava banho na sexta-feira santa, e por aí vai.
Certo dia depois do almoço, Odilon estava deitado numa rede na varanda da sua fazenda, quando viu ao longe um tropa de animais se aproximando, Odilon aplica a vista e verifica que era uma um bando de ciganos. Quando os ciganos chegam bem em frente a porteira da fazenda o grupo para, um deles desmonta do cavalo, abre a porteira se dirigindo para a casa grande da fazenda, Odilon de onde estava observava os movimentos do visitante, o cigano se aproxima, e. . .
- Bom dia meu patrão !
- Bom dia “mestre” o que você deseja ?
- Nós somos um grupo de ciganos, estamos de passagem e queremos a sua autorização para pernoitarmos na sua fazenda !
- Olha, eu não gosto de ciganos, mas, como é por
uma única noite, podem se arranchar !
O cigano se afasta e o grupo passa a armar as barracas para se abrigarem durante a noite.
No dia seguinte Odilon acorda cedo como faz todos os dias para ver o vaqueiro tirando leite no curral, quando ele se aproxima da porteira se depara com uma velha cigana com um caldeirão na mão, ela olha para Odilon e pergunta:
- Ganjão me vende cinco litros de leite?
- Pode apanhar com o vaqueiro !
- Quanto é o leite Ganjão ?
- Não vai lhe custar nada, pode levar !
A cigana agradecida quer retribuir a gentileza do fazendeiro e pede para ler a sua mão. Odilon era supersticioso, mas, tinha uma curiosidade fora do normal para saber alguma coisa sobre o seu futuro, ele senta-se dentro de um dos cocho do curral e a velha cigana se aproxima para ler a sua mão. A cigana pega na sua mão direita e passa a falar exatamente aquilo que Odilon deseja escutar, ele estava maravilhado, até o momento tudo aquilo que a cigana falava era do seu agrado, de repente, a cigana aperta firmemente as pontas dos seus dedos e olha fixamente para os seus olhos; Odilon sobressaltado , pergunta a cigana:
- Foi que houve “dona” o que foi que a senhora viu
na minha mão ?
- Ganjão, eu prefiro não lhe dizer ! Porem tenha
muito cuidado com as vacas ! Falou a cigana
com ar de mistério
A partir daquele dia Odilon criou verdadeiro pavor as vacas, chegou a ponto de evitar chegar perto do curral, tamanho era o seu medo, ele preferia ver o diabo a uma vaca perto dele.. Odilon realmente ficou impressionado com as palavras da cigana, e ao cabo de um mês, vendeu a sua fazenda e foi morar no Recife, ou melhor, no centro do Recife, mais precisamente na Av. Conde da Boa Vista. Odilon acreditava que em pleno centro da cidade, seria humanamente impossível uma vaca vir a lhe pegar. E assim foi se passando o tempo.
Certa noite Odilon acordou sobressaltado, ele havia sonhado com a profecia da cigana:
- ODILON, CUIDADO COM AS VACAS !
Na mesma semana, Odilon vendeu o seu apartamento e foi morar em São Paulo, numa cobertura da Av. Ypiranga. Quando ele estava sozinho sempre pensava com os seus botões:
- Eu quero ver agora, danada de vaca me pegar no
centro de São Paulo !
Com a venda da fazenda Odilon não precisava mais trabalhar, diariamente ele ia até o Viaduto do Chá, onde ficava debruçado na varanda observando o movimento. - Já que não tinha mais nada para fazer, fazia aquilo religiosamente todas as tardes, até que um dia: Odilon estava em cima do viaduto observando o movimento dos veículos no Vale do Anhangabaú, quando um vendedor de bilhetes de loteria se aproxima com uma série de bilhetes na mão e passa a gritar:
- OLHA A VACA ! ! !
Quando Odilon escutou aquela palavra fatal, teve um susto tão grande que perdeu o equilíbrio caindo do viaduto, indo se estatalar lá em baixo no asfalto. . .
Odilon não escutara direito o que o vendedor de bilhetes estava dizendo:
- Olha a vaca em 97 ! Ainda tenho um bilhete ! Quem quer ? ? ?