MORTO DE PREGUIÇA

A tempos atrás não existia a tecnologia que temos hoje em dia, tudo era feito quase que de maneira artesanal, nada de maquinas, nada de informática, nada de automatização e foi nestes tempos difíceis que um caboclinho da roça, preguiçoso por demais da conta resolveu que não iria mais trabalhar para viver e definitivamente decidiu morrer de preguiça, marcou a data para o acontecimento e no dia aprazado fez correr noticia pelo bairro e adjacências que o Mundinho filho da Sinhana Benzedeira e Parteira, viúva do seu Raimundo, morador no Córrego Fundo morreu.

Foi um corre corre danado, para lá rumaram os vizinhos, conhecidos e parentes para o guardamento do morto e no casebre de barrote em que morava, la estava na sala, inerte, sobre uma mesa, coberto por um lençol, o Mundinho morto e a todos que perguntavam do que havia morrido a resposta era a mesma:

_______ Morreu de preguiça

Era difícil entender o acontecido, na realidade, o caboclinho não queria mais trabalhar, dizia que nada valia a pena, assim morreu de preguiça mas estava vivo e este morto vivo iria ser conduzido ao povoado, distante algumas léguas de sua propriedade e caso neste trecho nada o fizesse mudar de idéia, tinha o propósito de ser enterrado vivo só por preguiça de viver. Firme no seu intento, por mais que os amigos tentassem a mudar de idéia, Mundinho estava lá, deitado sobre uma mesa, inerte, no meio da sala, coberto por um lençol, se fazendo de morto.

Para ver onde aquilo ia dar, no dia seguinte foi providenciado o cortejo fúnebre conforme costume da região, colocaram Mundinho em uma rede, duas varas serviam de apoio e em cada ponta, um homem sustentava a vara com uma rede e o corpo de Mundinho e saíram estrada afora conduzindo o enterro do morto de preguiça rumo ao cemitério. Pelo caminho os curiosos perguntavam quem havia morrido e os homens do cortejo respondiam

_________ Morreu Mundinho, filho da dona Sinhana benzedeira e parteira, esposa do finado Raimundo morador lá do Córgo Fundo.

Pronto, todos sabiam que era o vagabundo do Mundinho que estava aprontando e perguntavam o motivo da morte: Morto de preguiça era a resposta.

Assim o cortejo ia seguindo rumo ao povoado, onde ficava o campo santo, e a cada pergunta, as pessoas se solidarizavam, talvez não por ele, mas pela Dona Sinhana Benzedeira e Parteira, viúva do Seu Raimundo, morador lá do Córrego Fundo a quem deviam muitas obrigações, assim, uns oferecia uma galinha, outros uma porção de feijão, a metade de um capado e assim por diante, mas qual o que, nada atinava o morto voltar à vida ate que um sertanejo bem de vida e emocionado com o ocorrido, sabendo do motivo da morte, se comoveu e ofereceu dez sacas de arroz colhido, abanado, seco no ponto, posto no caixão e na tuia de Mundinho. Era o que o rapaz esperava, ao ouvir a oferta tentadora, saltou logo da rede confiante, porem no mesmo instante uma duvida o afligiu o preguiçoso que tentando esclarecer melhor a oferta perguntou ao bondoso homem

________ E o arroz! É com casca ou sem casca?

Com casca, respondeu o benfeitor, ao que Mundinho num salto retornou a rede, fechou os olhos, colocou a mão sobre o peito e deu ordens ao cortejo

________ Pois que siga o enterro!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 23/06/2010
Reeditado em 25/06/2010
Código do texto: T2337184
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.