O PROGRAMA DE RADIO
Era uma época totalmente diferente da que vivemos hoje. Naquele tempo, não existiam o computador, a internet, a televisão nem pensar e o que animava a noite eram os programas sertanejos das emissoras de radio da capital e de grandes centros, alem do que nem todos tinham o privilegio de ter um receptor em sua casa. Também era costume na época, as famílias visitarem outras família do bairro e juntos ouvirem os programas sertanejos, sobretudo na casa onde tinha o referido aparelho. Neste ponto minha casa era privilegiada pois alem do belo Radio Trans Semp graciosamente instalado num suporte de madeira na sala, meu avô desde que ficara viúvo veio morar conosco e como já era uma pessoa de idade, quase não saia de casa e muito menos a noite, assim os moradores vizinhos tinham como ponto de encontro a nossa casa, humilde e simples, verdadeira de caboclo, era uma casa de madeira, nunca fora pintada, portando tinha um aspecto escuro da madeira envelhecida pelo tempo. Na cozinha reuniam as mulheres de onde entre conversas e risos, saiam o café, chás de alfavaca, erva cidreira ou mesmo a garapa de açúcar queimado. Na sala, ou melhor, numa varanda na porta da sala a qual chamávamos de passeio, reuniam os homens para prosear e contar suas anedotas. Nos crianças, reuníamos no terreiro iluminados por uma lamparina de querosene e ajudados pela claridade da lua, nas noites enluaradas, lá brincávamos de corre lenço, ciranda cirandinha, esconde-esconde, brincadeiras que hoje muitos crianças nem conhecem e mais ainda, reuniam meninos e meninas sem nenhuma malicia, brincando e correndo juntos. Mas esta noite foi diferente, levados pelas propagandas da radio, ia acontecer um programa especial com a uma dupla sertaneja muito querida da reunião e todos estavam curiosos para ouvirem a o programa, inclusive nós crianças.
Meu pai se sentiu o comandante de um batalhão naquela noite, de olho no relógio, alguns minutos antes do horário do anunciado programa, lá foi ele para o belo receptor. E bom lembrar também que a sintonia do radio da época não era das melhores, apesar de ser um parelho novo, moderno pra a época e ter antena externa que consistiam em duas varas de bambu grandes que continha na ponta, amarada de uma a outra, um fio de cobre, a isto chamavam antena e realmente facilitava e melhorava muito a qualidade do som. Acontece que, talvez devido a distancia da emissora que ficava em São Paulo, a mais de quatrocentos kilometros, qualquer fenômeno atmosférico (chuva, frio, ventos fortes) interferia muito na sintonia, deixando o radio chiando e nada dava para ouvir. Infelizmente esta noite estava assim, só se ouvia ruídos e chiados, nada de vozes e muito menos de cantoria. O tempo foi passando e nada de sintonizar, as pessoas foram aos poucos dispersando. Meu avo ainda comentou
________ É José! Parece que hoje os homens não vêm!
Comentários a parte, lá estava meu pai com o firme propósito de sintonizar a emissora. O tempo passou e o horário do programa também estava indo e junto, a expectativa de ouvir os cantadores, desanimados com o adiantado da horas se despediram e quando já estavam a caminho, papai conseguiu sintonizar a emissora e a dupla ainda estava cantando suas modas de viola. Eufórico ele saiu pra fora e gritou em voz alta
________ Ei pessoal. Voltem! Voltem! Os homens chegaram.
E todos vieram correndo e ainda deu para ouvir o finalzinho do programa.