O FRANGO GAY
GALO CAPÃO O FRANGO GUEI
Quando a saudade aperta, às vezes eu mergulho bem fundo na lembrança, onde somente a recordação e saudade têm acesso. Encontro com o passado de uma criança cheia de fantasia amada pelos pais de forma incondicional. Com uma família unida, dividindo alegrias e tristezas entrelaçadas de forma solidária, tementes a Deus e amando ao próximo como a si mesmos. Vivendo num mundo completamente diferente do atual. Usando métodos primitivos para alcançar seus fins, tendo como base a natureza com sua simplicidade se responsabilizando pela seqüência da vida. Pautada pelo respeito e a dignidade do homem. Sem necessidade das punições, com terremotos maremotos e tantos outros métodos de violência gerados pelo desequilíbrio ambiental.Tanto no campo ecológico como no social econômico.
Com esta saudade; vem uma reprise completa do passado trazendo todos os sentimentos vividos na minha simplicidade infantil. Embutidos nesta lembrança estão os sabores e perfumes. Sinto o sabor do arroz descascado manualmente no pilão ou no monjolo, o aroma do café adoçado com rapadura, em fim, aquelas coisas com as quais me criei.
Num mundo sem poluição, sem radio, ou qualquer outro tipo de informação, sem a necessidade de coletar nem reciclar lixo. Não havia as embalagens plásticas que pode permanecer por mais um século sem deteriorar. As poucas eram de material perecível.
Dá pra imaginar viver atualmente sem um celular, rádio e t.v. caminhando a pé longas distanciam calçados de simples alpercatas de couro crú. Sem uma geladeira em casa, microondas, chuveiro elétrico, liquidificador e estas inumeras mordomias que nos acercam atualmente?
No passado o leite vinha do curral quentinho retirado do úbere da vaca, atualmente ele vem do supermercado numa embalagem que o deixa em condições de ser consumido alguns meses depois, o que colocam nele pra deixar com este poder não sei.
As coisas melhoraram isso não podemos negar, mas que tenho saudade deste passado, isso é inegável.
Havia métodos curiosos simples, mas interessantes. Técnicas repassadas pela tradição de geração para geração.
Lembro de dar assistência a minha mãe castrando frango pra fazer dele o tradicional galo capão, como era chamado. A raça de galinhas conhecida como nanica sempre era preferida. Uma espécie de tamanho comum, porém, de pernas curtas, realmente parecia ser mais dócil. O galo capão para quem não sabe qual sua finalidade despenhava o papel da galinha. Quando nasciam os pintinhos para não ocupa-la na criação dos mesmos, colocavam-nos juntos, ao capão, tampados com um balaio por um dia, no máximo dois. Ele adotava logo a manada e a criava com o maior carinho. Às vezes se confundia com as galinhas, tamanhas era sua dedicação com seus filhos adotivos... “Curioso não?” Parecia simples a castração, mas poucas pessoas tinham essa capacidade, minha mãe foi famosa nesta arte cirúrgica. A vizinhança sempre a ocupava com este trabalho. Um pequeno corte na parte mole da ave abaixo do seu reto, em cuja abertura penetra-se o dedo indicador, retirando os testículos que situam nas imediações das asas um em cada lado das costelas.
Como sempre há insucesso em tudo aquilo que praticamos, certa vez em uma de suas operações, houve uma pequena dificuldade no seu trabalho, ela não encontrando os testículos, exclamou: - será possivel nunca tive essa dificuldade, hoje está dificil! De repente disse: - há... Até em fim pelo menos um! Olhei na sua mão era o coração do pobre frango. Ele só deu um pequeno tremido. Eu a consolei dizendo: - Mamãe isso acontece... São os ossos do ofício.
Este deu um belo dum molho pardo!