Acuando as Águas
Dizem que uma das regiões mais secas do Brasil é o nosso município de Soledade - PB. localizado na região do Cariri da Paraíba. - O seu reservatório principal, é o Açude de Soledade, construído no início da década de 30 pelo instinto IFOCS ( Inspetoria Federal de Obras Contra a Secas), sé se tem noticia que este reservatório sangrou, uma única vez, no inicio da década de 70, quando estávamos construindo no seu sangradouro uma pontezinha de 30,00 metros, que depois de pronta passou a ser parte integrante da BR-230 – Transamazônica, trecho Cabedelo x Cajazeiras – PB.
Geralmente quando vamos iniciar uma nova obra, nossa primeira providencia e preocupação é saber a época der cheias dos rios da região. Este procedimento evita possíveis surpresas, quando geralmente a noite somos surpreendidos por enxurradas que arrasam nosso acampamento e destruindo os serviços que se encontram em andamento.
No caso da pontezinha de Soledade, não tivemos este cuidado, se o açude construído a mais de 40 anos nunca sangrou, porque haveria de acontecer agora. - Contrariando todas as regras de segurança, construímos o nosso acampamento ás margem do sangradouro do açude.
Trinta dias após o inicio das obras, estávamos com os pilares concretados e já havíamos iniciado a escoramento da meso-estrutura. - Nosso cronograma estava 15 dias a frente do previsto. - Era nosso pensamento liquidarmos aquela obra no prazo máximo de 90 dias.
Certo dia, sem que esperássemos, surge no horizonte pesadas nuvens de chuva. A medida que as nuvens se aproximavam o céu foi ficando escuro. Fortes trovões .
eram escutados e seus estampidos fortes como tiros de canhão ecoavam nas gargantas de serra, os relâmpagos e raios iluminavam o céu. A chuva foi precedida por uma ventania que mais parecia um vendaval, que arrancou as lonas das nossas barracas e derrubando arvores por onde passava. Os operários corriam apavorados procurando abrigo em baixo dos caminhões.
De repente chega a chuva, era uma chuva com ventos, tão forte que “cada pingo dava para encher um pote”. Como não havia onde me abrigar, corri para a cabine da pick-up que estava estacionada ali perto.
Como a chuva não parava resolvi ir até a cidade para me proteger. - Os limpadores da camioneta mesmo na velocidade 2 não dava vencimento a tanta água, parecia até que São Pedro , resolvera soltar todas as suas reservas dágua sobre Soledade. - Com muita dificuldade consigo chegar ao centro da cidade, as ruas pareciam até um rio, as águas iam de um lado a outro das casas, descendo rua abaixo como uma corredeira.
Procurei abrigo numa velha casa que alugara para fazer o depósito de cimento. Como Soledade quase nunca chove, o proprietário do imóvel não tivera o cuidado de fazer uma revisão no seu telhado. - Chovia mais dentro da casa do que fora. Daquela forma passei a noite driblando as goteiras dentro do velho casarão.
A cada instante a chuva parecia que engrossava ainda mais, choveu toda a noite e entrou pela manhã, a pisada era uma só, e tome água. - Finalmente as 07h30 da manhã a chuva dava sinais que iria parar, respirei aliviado, pois já temia por minha sorte dentro do velho casarão.
Até que em fim a chuva resolveu parar de uma vez, abri a porta da casa e saí para a rua, quando de repente uma coisa chamou a minha atenção, um bando de mais de 10 cachorros vira-latas, coriam ladeira abaixo acompanhando as águas que escorria pela sargeta, latindo como um bando de malucos.
Enquanto eu presenciava aquela cena inusitada, um velho se aproxima de mim e passa a olhar também os cachorros latindo e correndo atrás das águas, olho desconfiado para o velho e pergunto:
- Meu velho, o que será que estes cachorros estão vendo ?
-- Sei la homé ! Eu acho que eles estão acuando as águas porque
não sabe o que é ! - Eles nunca viram água por aqui antes !
Aqueles cachorros pareciam que estavam querendo me dar um aviso. Quando cheguei à obra, eu nunca vira tanta água junta. O sangradouro do Açude de Soledade, parecia mais, um grande rio. - Dois dias após a chuva, quando as águas baixaram, da nossa obrinha só restara os pilares e o “chão molhado”.
_ o _
Ainda tive uma vontade “danada” de imitar os cachorros e sair acuando as águas rio abaixo, atrás dos destroços da nossa pontezinha e seu acampamento.