OS PERNILONGOS

O verão chegou forte naquele ano, altas temperaturas que seguido de um inverno chuvoso favoreceu o desenvolvimento vigoroso da lavoura, ao mesmo tempo em que estabeleceu no campo um ambiente propicio para a criação de pernilongos, espécie de mosquito que apesar de não transmitir nenhuma doença, mas como eram em enorme quantidade, começou a perturbar a população da região, pois alem do seu cantarolar noturno, suas picadas para alimentar eram doloridas alem de causar uma coceira intensa no local da picadura e as noites tornaram-se terríveis.

Os proprietários das maiores glebas e que tinham recursos financeiros compravam os famosos tecidos de filô, espécie de um véu, com os quais faziam uma tenda bem fechada sobre o leito evitando que os inoportunos cantores noturnos adentrassem no leito onde repousavam para que fizessem o seu repasto.

Os de menores posses aturdidos com o verão atípico e com o inexplicável aparecimento de tamanha quantidade de pernilongos, procuravam encontrar uma forma barata de se ver livres de tais insetos ate que alguém descobriu que o estrume de vaca seco quando queimado exala um pequena quantidade de fumaça e um cheiro brando que não perturba o ser humano mas que espanta os malvados pernilongos, fazendo os danados permanecerem longe do local onde esta sendo queimado, uma alternativa ecológica e eficaz para as pessoas de menor poder aquisitivo e a noticia da descoberta espalhou por todo a roça, de tal modo que isto se tornou rotina, todos os dias, no momento de se recolher, arrumava-se uma vasilha velha, uma lata, um bacia, um pote velho de barro ou outro recipiente qualquer que não fosse destruído pelo fogo, levavam para o quarto, colocavam as bostas secas das vacas, material abundante por ali e ateavam fogo, assim podiam dormir sossegadamente pois os terríveis insetos não viriam atacar.

Zezão era um garoto muito educado, apesar de ter desenvolvido muito fisicamente, dando a aparência de um rapaz de dezoito anos, na realidade ainda era um meninote de treze para quatorze anos de idade e foi terminantemente contra estes procedimentos e dizia categoricamente:

________ Vocês podem fazer o que quiserem, mas, bosta de vaca no meu quarto eu não queimo.

Diante deste posicionamento a mãe do rapaz preocupada com a conduta do filho fez de tudo para persuadi-lo a aderir ao método simples, fácil e com custo zero, pois o estrume de vaca se encontrava abundantemente pelo pasto do gado da propriedade. Alertou que até as irmãs que eram mocinhas aceitaram bem mas o rapaz estava irredutível: Eu já falei, bosta de vaca não entra em meu quarto!

Assim o tempo foi passando, noites após noites, todos dormiam tranquilamente, menos Zezão que no outro dia acordava de mau humor, reclamando dos pernilongos e com o corpo todo encaroçado pelas picadas, alias o corpo do rapaz estava pontilhado de marcas de picada, mas permanecia irredutível: Bosta de vaca no meu quarto, de jeito nenhum!

Noite destas já era altas horas da madrugada e todos dormiam o sono dos justos no humilde casarão de madeira, menos Zezão que se vendo aturdido pelos infernais insetos, não agüentando mais berra desesperadamente no quarto:

_______ Ohh! Mãnheee! Eu também quero bosta.

Todos da família acordam assustados, a mãe tranqüiliza-os e prepara o repelente para o molecote que deixou o orgulho de lado e se curvou diante do insignificante e inofensivo animalzinho, o pernilongo.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 19/05/2010
Código do texto: T2267122
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