A TRANSFUSÃO DE SANGUE

O Povoado todo conhece muito bem a vida de Totonho, o que para uma cidade pequena do interior isto não é novidade, todos vivem na realidade como uma grande família. Já havia passado algumas semanas que o carroceiro caira acometido de uma forte pneumonia dupla e precisou ficar internado por vários dias num hospital da cidade grande mais próxima do lugarejo e esta noticia se espalhou por toda a região até mesmo nos bairro mais distante, visto a popularidade do homem.

Uma tarde como outra qualquer e para não perder o habito, o carroceiro adentra a venda para tomar uma dose da cachaça preferida e um dos fregueses que ali estava, ao vê-lo fica contente, informa que apesar de morar longe do povoado ficou sabendo de sua enfermidade e torceu muito pela sua recuperação e pergunta como esta de saúde no momento.

Totonho agradece a preocupação com a sua saúde e logo em seguida pondera no seu jeito acaboclado: “Pois escute só seu moço, tá certo o Padre Adolfo quando diz que Deus escreve certo por linhas tortas, não é que neste tempo que passei internado por causa desta bendita pneumonia serviu para fazer novos amigos por lá pois com este meu seu jeito caipira, fui cativando a todos com minha prosa e não é que até mesmo os médicos as vezes paravam para ouvir meus causos, tanto é que dias destes foi visitar o hospital, na realidade era uma consulta que tinham marcado para verem o meu estado de saúde que com graça de Deus esta bem, mas verdade seja dita, esses novos amigos ficaram felizes com a minha recuperação inclusive uma das enfermeiras, a mais carrancuda, ao me ver corre ao seu encontro agradecendo a Deus pela minha presença, no começo não entendi nada mais depois ela explicou que no hospital estava internada uma senhora de mais de oitenta anos e que estava precisando de um sangue especial, raríssimo na região”.

Ao ouvir o relato de Totonho os demais fregueses que estavam na venda se aglomeraram ao redor do homem prestando atenção na sua narrativa e pressentindo que dali sairia mais uma conversa fiada do loroteiro que agora continuou dizendo a todos: “Pois olhem meus amigos, senti mais lisonjeado ainda quando ela falou que a única pessoa na região que tinha este sangue especial era eu, por isso a felicidade da danada da enfermeira que me vendo com saúde e bem disposto, foi logo pedindo carinhosamente que doasse meu sangue para aquela senhora de idade avançada, e como bom católico que sou, não pude negar pois essa era a única esperança de vida da pobre velhinha.

Foi uma correria danada naquele hospital, com meu consentimento, providenciaram imediatamente uma cama ao lado da cama da dela onde me deitei e a enfermeira pegou sua veia com uma grossa agulha, o sangue jorrou forte e vermelho vivo, indo por meio de um caninho de borracha, diretamente para a veia da avozinha que foi ficando corada na hora e teve melhoras a olho visto. Uns quatro ou cinco minutos de transfusão a enfermeira chefe achou o suficiente, veio, tirou a agulha de meu braço, trouxeram um suco de laranja e um sanduíche de mortadela e me trataram como um rei e uma delas comentou:

_________ Graças a Deus Seu Totonho, o senhor salvou a vida desta mulher.

Fiquei mais um pouquinho por ali entretido na conversa com os amigos, mas antes não tivesse ficado, logo vi outra correria danado no hospital lá pro lado do quarto daquela senhora, fui saber o que tinha acontecido e encontrando com a enfermeira que estava pasma no corredor, perguntei o motivo tal desespero e ela informou que a avozinha tinha morrido. Fiquei decepcionado e quis saber o motivo da morte no que a enfermeira me respondeu aos prantos

________ Ah seu Totonho! O medico disse que “deu na fraqueza” da pobrezinha, o seu sangue é muito forte, ela não podia ter recebido puro, tinha que ser metade sangue e metade água.”

O Carroceiro ao finalizar seu causo, todos estavam, boquiaberto com fértil imaginação do homem ninguém porem disse coisa alguma, apenas esboçaram um sorriso maliciosos, o loroteiro pediu outra dose e saiu apressado como sempre.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 16/05/2010
Código do texto: T2260737
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