A TRAPALHADA DO ZEQUINHA

Nos dias atuais as vezes ficamos boquiabertos ao ouvir os relatos das proezas do sertanejo num tempo onde não havia recursos médicos para prestar atendimento as necessidades do povo que, diga se de passagem, eram muitas. Como o homem tem a capacidade de se adaptar ao meio em que vive, assim o sertanejo tinha uma sofisticada rede de cuidados ante as doenças e agravos da natureza e eram valorizados os conhecidos benzedores e curandeiros que se espalhavam pela região, homens e mulheres que colocavam suas vidas a disposição dos necessitados para as mais diversas ocorrências, O elenco de cuidados era enorme e os medicamentos, sempre retirados da natureza, eram usados em formas de chás, efusões, emplastos alem de recorrer ao Todo Poderoso com rezas e benzimentos ou através de simpatias e promessas que hoje são até folclóricos mas que no passado era levado a sério e se folclórico ou não, davam resultados.

Zequinha menino muito inteligente e bisbilhoteiro morava perto de um velho senhor cuja fama de benzedor e curandeiro se espalhara pelo sertão afora. O menino observava com curiosidade as pessoas vindas dos mais distantes rincões que recorriam aos préstimos do famoso benzedor, chegando em seu casebre, pessoas com as mais diversas queixas, toda provocadas pela inospitalidade do ambiente roceiro em que viviam, inclusive as mordeduras de cobras eram mais freqüentes, o que chamava muito a atenção de Zequinha que gostava de andar perambulando pelas quiçaças fazendo suas traquinagens.

Vai dai que certo dia, Zequinha juntando com mais alguns meninos de sua idade, todos igualmente peraltas, saíram pelo mato afora a caça de alguns pobres passarinhos que ficasse na frente das pedras de seus estilingues ou a cata de frutos silvestres e até mesmo de alguns cultivados, visto a safadeza dos garotos. Algum tempo depois aparecem na casa do velho benzedor Zequinha juntamente com os demais, todos igualmente apavorados alegando que um dos garotos havia sido picado por uma cobra, não sabiam explicar ao certo o tipo da serpente mas que era uma cobra tinham certeza. Disseram que estavam apanhando laranjas quando algumas delas caíram dentro de um buraco de tatu abandonado e o garoto ao colocar a mão no buraco para catar as laranjas, alega que a danada deu um bote e mordeu sua mão que realmente apresentava um pequeno arranhão no dorso, porem nada parecido, nem de longe, com uma picada do referido animal peçonhento.

O Bondoso homem examina atentamente o menino que esta pálido de medo e susto, dá-lhe de beber um copo de água com açúcar, calmante natural e muito usado nestas horas pelos sertanejos, observa atentamente o ferimento e antes de qualquer prognostico pergunta o por que de um pedaço de cipó amarrado na coxa do menino ao mesmo tempo em que vai desamarrando o dito cujo que estava muito apertado e dificultando a circulação. Zequinha, muito esperto explica imediatamente que mandará amarrar o cipó na perna do garoto por conta de que sempre ouviu do benzedor que em caso de uma mordida de cobra era preciso amarrar alguma coisa bem apertada na perna para o veneno não subir.

O bondoso homem rindo da inocência do menino observa:

________ Mais fio di Deus, o ferimento foi na mão!

Todos os meninos caíram na gargalhada com esta afirmativa e só então Zequinha entendeu que o cipó não era uma simples simpatia, mas uma conduta usada pelos curandeiros para evitar que o veneno da serpente se espalhe pelo corpo e que portanto deveria ser amarrado no membro ofendido, neste caso, no braço.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 13/05/2010
Reeditado em 13/05/2010
Código do texto: T2255648
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