"Coisa" Prá Indiana Jones
No ano de 1974 fomos contratados pelo DNER para construirmos o primeiro viaduto da cidade de Natal – RN. A obra seria edificada sôbre a BR 101 Norte – RN, trecho Parnamirim x Natal, no acesso à Praia de Ponta Negra, na entrada da cidade.
Naquela época eu morava na cidade do Recife e por conta da nova obra, semanalmente ia até Natal. Como a viagem era relativamente curta fazíamos o percurso de carro.
Quando chegou a época da concretagem da obra, como a minha mulher não conhecia Natal, resolvi convida-la a me acompanhar, aquilo seria uma forma dela conhecer a cidade, já que os serviços de concretagem do viaduto durariam pelo menos uns três dias. Ficamos hospedados no recém-inaugurado Hotel Reis Magos, localizado na aprazível Praia de Areia Preta na orla urbana da capital.
Ao cabo de três dias de serviço a concretagem do viaduto estava concluída. - Então resolvi retornar ao Recife, fui ao hotel, peguei a minha mulher e iniciamos a nossa viagem de volta. - Naquele dia chovia forte na cidade, deixamos o hotel por volta das 16h00. - Após uma hora de viagem estávamos quase na fronteira com a Paraíba. - Devido o tempo chuvoso estava quase escuro, ao iniciarmos a descida de uma ladeira, divisamos a alguns metros adiante uma imensa fila de carros estacionados ao longo da estrada e no acostamento - Utilizando a “Lei de Gerson” fomos driblando os carros estacionados até chegarmos a margem de um rio. - Ali fomos informados que o rio botara uma cheia levando a ponte. - Como não havia uma forma de prosseguimos a viagem, resolvi retornar a Natal. Quando ia manobrando o carro para retornarmos à cidade, alguém bate no vidro do carro e nos informa:
- Olha, tem umas balsas ali transportando os carros de um lado a outro do rio !
Não quer tentar ?
Manobrei novamente o carro me dirigindo para a margem do rio. - Ali haviam duas filas de carros, uma grande e outra infinitivamente menos, optei pela segunda.
Em menos de trinta minutos chegou a minha vez de embarcar na tal balsa. - Quando me aproximei das duas pranchas que levaria o carro para cima da embarcação, tremi nas bases. Uma coisa não poderia ser mais precária do que aquilo. - A balsa era formada por uma oito tábuas de pinho, presas a dez tambores vazios com cordas de agave. - Quando verifiquei a fragilidade daquele desmantelo refuguei, e. . .
- Meu chefe, eu mesmo não vou colocar o meu carrinho na sua balsa não !
- Mais porque “doutor” ? perguntou o balseiro
- Este troço não agüenta o peso de um carro “
- Oxente homem ! Agorinha mesmo acabei de atravessar uma camionete carregada de gente ! - Vamos homem, eu garanto o meu serviço !
Depois de matutar por alguns instantes, finalmente resolvi colocar o carro em cima da balsa. - Com o peso do carro a balsa parecia que ia virar, balançava como uma gangorra, para se firmar ali em cima, tínhamos de nos agarrar ao carro. - O balseiro fez sinal e a balsa foi empurrada para dentro do rio. - De repente começou a chover, era uma chuva tão forte que não se enxergava a outra margem do rio. - O balseiro aos berros gritou:
- Acenda as luzes do carro “ doutor” !
Com o claro dos faróis, vi na outra margem do rio uns 10 homens que puxavam a balsa através de uma grossa corda de nylon. - O rio até que não era tão largo, mas, quando chegamos ao meio, a força da correnteza era tão forte, que, as águas batiam de encontro aos tambores com a violência de uma locomotiva. - A balsa balançava tanto que parecia que ia virar. - Minha mulher apavorada chorava agarrada no meu braço. Como colete salva vidas, em caso de acidente; ali só haviam duas câmaras de ar de caminhão, cheias de remendos. - Não sou muito de clamar pelos santos, mas, meu medo era tão grande, que, apelei para os 12 apóstolos e as 11.000 virgens.
Para aumentar ainda mais a minha aflição, no meio daquela confusão, o desgraçado do balseiro se aproxima, agarra no meu braço e diz:
- “Doutor” tem gente que é mesmo que “ferida braba” só quer comer sozinho !
- Como assim “cara” ? Perguntei intrigado
- Pois não é que o dono da outra balsa ta dizendo a todo mundo que, somente hoje
minha balsa já virou duas vezes !
Depois daquela noticia o meu medo transformou-se em pavor, aquela travessia maluca era mesmo coisa para o “Indiana Jones”. . .