AS MULHER E O DIABO
AS MULHER E O DIABO
Conto causo
Mas, intão. Eu võ contá uma passage pro sinhô. Mas não é bem uma passage., ou um causo daqueles que eu sei ô invento , i aumento um pouco os acontecido promode a histora ficá mais divertida.
É uma passage qui assucedeu-se com a minha pessoa de mim mesmo.
Poisé. Depois do arranca rabo da greve qui a gente fizemos lá na tramportadora onde qui nós trabalhava, não demorô nem dois mês, pro gerente anunciá que ia tê um corte de pessoal. Queria dizê qui era pra botá rua todos us cabras qui era capaz de organizá os trabalhadô promode...Daí seu Uilsom, tem uma palavra qui é danada de boa pra explicá essas coisa...
Reivindicar?
É isso mesmo! Reivindicá os direitos dos trabalhado qui os patrão, nunca é qui vai querê pagá.
Mas isso já é outra história, qui eu não vou contá agora.
Nós fumo tudo pro olho da rua, e a gente voltemos pra estrada , trabalhá de chapa, igual cumo era antes.
Pra mim não fazia muita direrênça, por causa de que, como eu já lhe falei pro sinhô. Eu não tinha família pra sustentá, i achava até bom, não tê qui recebê órde de ninguém; Mas os outros companheiros, quando o trabalho rareava,, i a gente ganhava pouco... Dava era dó di vê o desispero dos chefe de família, pra levá comida pra casa... É qui aquilo mi dava uma agonia tão grande, qui eu nem sei explicá.
As vez eu pegava um caminhão pra descarregá, i passava pra outro qui estava precisando mais.
Daí, teve um dia qui eu fiz sinal pra um caminhão pequeno, qui tava chegano, era pra vê se tinha carga, ou arranjá uma carona. Mas olha só qui alegria a minha, seu menino, era Zenóbio.
Zenóbio era o motorista do caminhão qui me levou até Goiás.
Quando ele me viu, ficô até se rindo;
Sobe ai Zé Uóston, vai me contando logo as novidades...
-Eu vou contá. E fui contando o causo da greve, i qui eu já tava no olho da rua.
Daí qui ele se riu mais ainda.
-É qui você não sabe mais se empregado.
Quando a gente sente o gostinho da liberdade, daí ninguém mais bota cabresto.
Ajudei Zenóbio a descarregá o caminhão, i passamos o resto do dia proseano, i bebendo cerveja gelada.
Zenóbio me conto qui também não trabalhava mais de empregado, e que tinha umas economia, que deu de entrada no caminhão. Estava comprando e vendendo. Comprava num lugá, i vendia no outro.
Comprava e vendi de tudo: Feijão, carne seca, tecido, óleo di cozinha, i mais uma porção di miudezas, qui vendia pra todo mundo, viajano de um lugá para outro.
-Já qui você tá sem patrão, não quer viajar uns tempos mais eu?
Eu achei qui Zenóbio não tava falano sério, mas daí, ele falô de novo
- Você me ajuda a fazê as compras, carregá e descarregá nas cidade, i eu ti pago uma comissão pra você; Não é muito, mas dá pra comê, tomá umas gelada, i ainda pegá uma mulhe nas currutelas de beira de estrada.
Eu achei que ia sê muito bom. Só fui pegá uma roupa, mais um dinheirinho que eu escondia debaixo de uma talba solta do soalho. I paguei uns dia de alugué.
Peguemo a estrada rumo a Planaltina; Não era longe de Goânia.
Já era noite quando a gente cheguemos.
Zenóbio conhecia muita gente por lá, e foi fácil arranjá lugá pra dormi numa tal de estalage, qui era mesmo o ponto de caminhoneiro.
Fui sendo apresentado para os pessoal qui era uma gente danada de divertida; E tinha por lá um tal de Juca Limão, qui não era caminhoneiro, nem viajante vendedô. O cabra era violeiro cantadô.
Tinha esse nome por conta qui os pessoal dizia, que ele estava sempre chupando limão.. . I o cabra era feio de doer.
Mas o sinhô ta pensando qui ele ligava? Qui nada! Ele si ria era muito, i ficava mais feio ainda.
Naquela noite mesmo, depois qui a gente jantamo, os companheiros chamo eu mais Zenóbio pra casa das mulher de uma currutela perto dali.
Juca Limão ia tocá, i os pessoal gostava era demais..
Zenóbio preferiu ficá dormino pra descansá. Eu fui.
-Mas, não e´qui o tal de Juca Limão tocava, i cantava modas, i umas música di amô, cada uma mais bonita qui a outra.
Naquela ocasião, qui eu ainda era moço...Até qui eu era um cabra qui não era feio não. Visse?
De barba feita, i nas elegâncias das fatiota, dava até pra arrajá alguém.
Mas o diabo, era quando o danado do Juca Limão tocava aquelas modas di amô as mulherada só olhava pra ele.
No dia seguite eu contei pra Zenóbio qui não tinha arranjado ninguém, i qui as mulher, só queria sabê di ficá ouvino as moda de Juca limão. Daí que ele se riu um bocado.
E você acha que eu não quis ir, porque?
Ele já sabia, e nem pra me avisá... Eu não ia acreditá mesmo, e o jeito era ficá si rino também .
Aquele trabalho de ficá comprano i vendeno por aqueles fim de mundo do sertão de Goiás, as vez era brabu.
As estradas era, que era só buraco, e quando não era buraco era atoleiro.
O sinhô pensa qui a gente achava qui era ruim? Ruim era mesmo, mas, nós levava na farra.
E quando não dava pra segui promode da chuva, dos atoleiro, o jeito era ficá nas currutela, bebendo e vadiano com as “mulhe dama”.
...a vida era boa, até quando não prestava...
Mas, eu vou lhe contá pro sinhô, que Zenóbio era um companheiro mais que um irmão.
Quando eu falei pra ele, que eu não sabia nem lê nem escrevê. Eu pensei que ele ia se ri de mim.
Riu não sinhô. Ele me olho meio triste...
-Eu também não sei muita coisa, mas, o pouco que eu sei , dá pra lhe ensiná pelo menos assiná o seu nome, i as outras coisa das leitura você vai aprendeno devagá.
Não é qui ele me ensinô mesmo!
Primeiro ele me ensinô as letras, depois eu fui aprendeno a juntá as letra até jormá o meu nome.
Quando eu escrevi o meu nome certo pela primeira vez, mas eu fique foi besta, e se rindo à toa; Era muita alegria. O sinhô nem magina.
Eu ficava olhano o caderno, i tava lá: José Uóston da Silva.
-Era bom por demais...
Este Zenóbio era mesmo um batuta. Olha qui não tinha nem seis mês, e eu já tava lendo uma porção di coisa. Primeiro eu demorava pra juntá as letras, depois eu fui ficano mais ligeiro.
- Zenóbio! Até qui você podia sê professô di verdade...
Daí é qui ele se riu um bocado.
Depois fico sério, i falo assim pra mim: Sabe Zé, qui desde di menino, eu queria sê professo? Mas, nunca nem estudei... E de qualqué maneira eu acabei ensinando pra alguém. E você foi o meu primeiro aluno.
Então é qui nós se rimos de quase se mijá.
Daí qui eu tava lendo um pouquinho, só precisava praticá a escrita.
Essa parte era mais difícil por conta do sacolejo do caminhão. Mesmo assim eu ia aprendendo aos pouquinhos na boleia , lendo as placa da estrada, i os nomes das cidades, já era de muita valia. Lê, eu já sabia, soletrando, mas, sabia. Só faltava melhorá a escrita.
Zenóbio então me falo qui eu devia tirá a carteira de motorista. Eu já sabia dirigi, que fui aprendendo aos pouquinho qui era pra da um descanso pro companheiro nas estradas mais longe qui não tinha fiscalização.Mas então. Poisè, E si o diabo não dormi, Deus nem cochila...
Tava tudo indo de bom pra melhó. Ganhando dinheiro, bebendo as geladas, dançano e pegano as mulher nas currutelas. Vida melhó, só se era no céu.
Tava era bom demais . E si a gente não toma cuidao , E se Deus não era do nosso lado, o tinhoso do Cão, já estava armando uma treta , pro mode acabá com a festa.
E foi num dia, que a gente paramo numa cidade pra entregá umas encomenda, i quem tava lá também, era um violeiro, i não era outro, Juca Limão, ia tocá i cantá no cabaré de Otacília.
Seu menino! Coisa qui eu apreceio por demais, depois di mulhé, é moda de viola.
Zenóbio também gostava, e daí a gente arresolvemo ficá mais uma noite na cidade.
Da última vez, em Planaltina, ele tava cansado, e fico na hospedage dormindo..
Eu nem pensava em pegá mulhé, qui eu já conhecia a fama do cabra, quando se tratava desse porém.
O cabaré tava cheio naquela noite.
Enquanto não começava a cantoria, os pessoal tava dançando umas músicas de animação, dessas qui toca no rádio. Eu mais Zenóbio fiquemos no balcão tomando cerveja, i apreciando o movimento das meninas de Otacília, era assim como é qui o povo chamava.
E tinha uma morena, mas qui era di uma boniteza di deixá qualqué cristão pensando besteira.
Eu quase é qui saio fora do comportamento das boas maneira.
Zenóbio tava qui tava si babando pela morena.
Quando ela notou qui a gente tava olhando, olhou pra nós também com aqueles olhão cor de mel de abelha, se riu, e foi chegano pra perto.
-Seu Uilsom! Eu só vô lhe contá pro sinhô, porque já si passou muito tempo, i sei que não vai se ri de mim.
Mas, na hora me deu um medão, qui se eu não era macho, eu tinha corrido. Pro sinhô vê! Eu com medo de mulhé. Quando olhei pra Zenóbio, o homi até parecia uma estalta, forçando um sorriso, qui mais era igual a uma careta.
Magina só... Dois homi macho, acostumado a pegá tudo qui era quenga das currutela, ali parados com cara de besta.
-Vocês vão ficarem pra vê a cantoria?
Como ela falava bonito, seu menino, com aquele dentinho de ouro qui era um mimo di verdade.
A gente só balancemo a cabeça, como qui nem dois bonecos di mamulengo.
-Então eu vou arranjá uma mesa bem perto do palco, pra vocês apreciá melhó.
Brigado pela gentizela da senhorita dama, mas você não qué ficá mais nós?
Zenóbio tinha recuperado a fala, e já tava cheio das prosopopéia pro lado da morena.
-Eu é que tinha qui te falado aquilo.
-Vai sê um gosto, ficá na companhia de dois cavalheiro de tanta distinção.
Eu não podia mais ficá calado.
- Mas, qual é a graça da jóve beldade?
Puta que pariu! Beldade...Mas de onde eu fui desencavá aquilo?
-Marlene para lhe servi-lo.
Mas, olha qui nome danado di bonito.
As quenga tinha tudo nome besta, era Edvânia. Cleonice. Geralda... só nome assim...
-Mas, é um nome tão bonito igual à dona.
Zenóbio não perdeu tempo.
Ela olhava pra mim, e olhava pra ele, sorria pra mim, sorria pra ele.
Eu fazia uma gracinha de cá, ele fazia outra, só pra se amostrá.
Você aceita uma champanha?
Já era demais! A tal de champanha tinha gosto de mijo de gato.
Zenóbio bebia com a maior cara de sastifação. Eta cabra exibido!
Marlene só ficava si rindo,e bebia a tal de champanha com gosto.
Uma mulher daquela, devia era ta acostumada com assas bebidas cara.
Eu nunca tinha provado essas fidalguia. Mas até a garrafa era cheia de finura, mas, qui o negócio tinha gosto de mijo de gato, tinha mesmo.
A minha cabeça naquela hora tava dando volta; Eu queria dizê alguma coisa, mas não achava nada qui não era coisa besta.
--Você é daqui da cidade?
Sô não. Só to aqui visitando tia Otacília, eu nasci e fui criada em Ituverava, interior da Bahia.
Zenóbio pegou logo o mote.
Mas é uma bela de uma cidade...E não é de admirá qui as moças di lá é assim tão bonita.
Mas era muita cara dura! Que ele conhecia a cidade era verdade, mas tinha contado pra mim uma vez, qui aquilo era mais feio que parto de coruja.
- Me convida pra dança seu Zé Uóston?
Mas é com muito gosto!
Aquela di querê dança mais eu, era tudo qui eu não esperava. Achei foi bom. Mas o diabo era qui eu dançava era muito mal.
Quando eu dançava com as quengas das currutela, eu ficava era me esfregando, e de descaração com elas.
Marlene ficou que foi juntinho, botou a mão no meu ombro, e colou o rosto no meu.
Ah seu Uilsom! O perfume dela, mais o calô daquele corpo moreno,
encostado no meu... Eu só queria falá umas coisa pra ela. Mas, cadê corage? E dizê o quê?
Quando a gente voltemos para a mesa, Zenóbio si alevantô cheio dos sorrisos, e elegâncias, com uma rosa não. –Uma frô para a mais linda frô..
Mas onde é qui ele foi aprendê a falá umas frase tão bonita? Parecia até coisa di poeta.
Eu não sabia qui Zenóbio era poeta, e si não era, parecia.
Marlene ficava toda dengosa: Ah seu Zenóbio, mas o sinhô é mesmo um finório, e cheio das galantezas..
Eu já tava com vontade era de voar no pescoço do cabra, e mandá ele calá a boca.
Mas olha só, o qui uma mulhé faz no juízo do homi!
Por sorte minha, foi naquela hora qui Otacília mandô pará a musica da vitrola, qui ia começá a cantoria.
Juca Limão foi subindo num tablado, qui era chamado di palco. Apagaro as luz do salão, e acendero uma luz vermelha por riba dele, e o sujeito fico ainda mais feio qui o cù da jia.
Os pessoal ficô tudo em silêncio.
-Boas noite sinhora, i sinhores.. Brigado pela presência.
Para abri a noite, i atendê um gosto di dona Otacília, eu vô cantá a moda. Maringá.
Seu menino! Mas só si ouvia a voz do canto, o som da viola, i as mulherada se assuspirando.
Até eu qui sô é muito macho, fiquei di olhos molhados.
Era bonito por demais!
Depois ele anda canto um qui dizia assim: O luá cai sobre a mata guá uma chuva di prata, di raríssimo esprendô.
Mas era di si mijá nas butinas.
Quando acabo a cantoria, qui os pessoal aplaudiu, acendero as luz, é qui a gente vimos qui a morena não tava mais lá.
Zenóbio mais eu, fiquemos chateados, e fumos simbora.
No caminho, Zenóbo fico si rindo e mangando de eu: ...quá é a graça da da jóve beldade?
... i tu, i tu? ...uma frô pra linda frô... Se assunte ó cabra...
Nós demos foi muita risada, um do outro.
No dia seguite, a gente voltemos no cabaré, mas a morena, não tava mais lá.
Agora seu Uilson . Me pergunte pela morena.
Ta bom. E a morena?
O sinhô acredita, qui depois di eu quase brigá com o meu compalheiro, a danada da morena foi simbora agarrada com o Safado do Juca Limão?
...homi....