FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO
Déco Passarinheiro era um bom rapaz, conhecido em todo o povoado por este nome por manter um grande numero de pássaros em cativeiro que alem de lhe dar muito prazer ainda lhes rendia alguns trocados com a venda das aves para as pessoas que como ele, gostavam de manter os pobres bichinho presos em requintadas gaiolas ou viveiros, assim a vida do jovem, principalmente aos sábados, domingos e dias santo de guarda, era andar pela zona rural da pequena cidade interiorana, abeirando matagais, rios e riachos, armando seus alçapões a caça dos mais diversos tipos de aves. No quintal de sua casa era grande o numero de gaiolas e viveiros com canários da terra, sabias, pássaro preto, curiós, coleirinhas, galos das campinas, periquitos, papagaios, baitacas, enfim uma variedade de aves silvestres da região, vale lembrar que naquele tempo infelizmente não havia a interferência do IBAMA e as aves eram apanhadas e vendidas livremente.
Vai daí que certo dia começou a aparecer algumas de suas gaiolas destroçadas no chão e as aves simplesmente desapareciam, ficando somente as penas no local, sinal evidente de que algum predador estava devorando as pobrezinhas indefesas e causando prejuízos ao rapaz. Déco começou a investigar o acontecimento e não tardou a descobrir que o gato do vizinho era o autor destas proezas. Tinha a certeza que uma conversa com o dono do animal não iria resultar em nada e alem do mais corria o risco de comprar um briga ferrenha com o homem, então se pôs a arquitetar um plano para livrar-se do maldito felino sem que levantasse qualquer tipo de suspeita. Bom conhecedor da zona rural do município chegou a conclusão que melhor lugar não havia do que a invernada da Fazenda do Italiano, um chapadão a perder de vista, lugar ermo, distante da cidade e dos olhares curiosos alem de que no lugar não existia nenhuma arvore num raio de aproximadamente quinhentos metros, se soltasse o gato naquele chapadão e atiçasse os seus cães, em pouco tempo o bicho estaria estraçalhado, não deixaria nenhuma pista e o vizinho jamais procuraria o animal tão longe.
Levado pela raiva e desejo de vingança, tratou logo de por em pratica o seu intento antes que o prejuízo fosse maior, no domingo logo de manhãzinha, com um pedaço de carne atraiu o manso bichano até ao alcance de suas mão, colocou o pobrezinho dentro de um saco de estopa, amarrou bem a boca, chamou o sultão e o periquito, seus dois cães, pegou algumas gaiolas com chama e alçapão para o disfarce, colocou tudo em sua charrete puxada pela mula Cabrália, meio de locomoção usado para bisbilhotar os sítios da região e rumou para o local escolhido. Os cães como sempre o acompanhou, chegando as proximidades do local escolhido, verificou se não havia gente por perto e como era de se imaginar naquela manhã de domingo tudo estava deserto, ideal para executar o serviço e desta vez o gato iria pagar caro pelos pássaros havia lhes roubado.
Pegando o saco de estopa em que prenderá o animal, atravessou a cerca e os cães seguiam curiosos, no meio da invernada, local idealizado, desamarrou a boca do saco, deu um safanão no gato que escapuliu em disparada, nem foi preciso atiçar os cães que saíram atrás da caça. O Pobre bichano não encontrando nenhuma arvore ou toco de guarida por perto, numa ultima tentativa de escapar com vida, volta em direção a Déco, único ponto alto no meio daquela invernada e num salto sobe rápido pelo corpo do homem que procura desvencilhar do animal e numa tentativa desesperada, ralha inutilmente com os cachorros que vindo no encalço do felino, saltam também sobre o rapaz e o seu corpo se torna o palco de terrível luta que resultou no gato estraçalhado, os cães vitoriosos e o homem em petição de miséria, roupas rasgadas, o corpo todo arranhado, pelo gato na defesa da vida e pelos cães ávidos pela caça, felizmente após o susto, só as roupas rasgadas, o ardido das ranhuras causadas pelas unhas dos animais e nenhum ferimento mais profundo.