AVENTURAS DE UM CAIPIRA
Chico Paulo era um caipira nato, nasceu e cresceu perdido neste ermo de meu Deus, nunca havia saído do campo e a cidade maior que visitara sempre foi o sua pequena e pacata cidade natal, de povo muito simples e cordial, onde pelo porte da cidade e característica dos moradores, pode se dizer que todo mundo conhece todo mundo. Acontece que a filha mais velha do Chico, a Filomena, se engraçou com um rapaz da capital e não teve jeito, casaram mesmo. Passado certo tempo ele resolvera fazer uma visita para a filha que a mais de cinco anos havia casado mas que pela dificuldade, ele ainda não tinha lhe visitado.
Cuidadoso como era, o homem planejou a visita quase um ano, mas finalmente o esperado dia chegou e Chico tomou o trem indo parar na capital. Na volta, veio cheio de novidades e passando na venda do Zé Bento para tomar um gole da danada, como de costume, não se conteve, precisava partilhar a aventura vivida na cidade grande e põe a narrar a aventura no seu jeito e linguajar simples do homem do campo, dando uma conotação mais autentica ao causo.
“Oia seu Zé pois num é que fui viajá sumana passada pra Sum Paulo. Fui visita minha fia Filó que mora lá. Eta Cidadão danada de boa sô! tão grande, mais tão grande que as vista num arcança de tão grande que é. Ói seu Zé, a cidade num é bunita não, infumaçada por dimais da conta. Otra coisa que chamo atenção é como tem gente, homi do céu, inté pareci furmiga nun furmiguero, é gente correno prun lado, é gente correno praotô lado; carro intão, num dá nem pra conta. Mais o que achei mais ingraçado memo é que lá ninguém conhece ninguém homi, desci na istação do trem, meu genro Nardo, marido da minha fia, tinha combinado de ispera nois na istação, e num é que o bendito do homi atrasô e nóis chegamo antis dele. Intão disse pra minha véia: Vamo vê se argúem puraqui conheci o Nardo, quem sabi nois afinca o pé e vamo de incontro com ele ué. Perguntei prum perguntei praotô, aquerdita, seu Zé, que têvi inté gente que num deu nem pelota pras minha pergunta e ninguém informô nadica de nada do Nardo. Oia homi, fiquemo no mato sem cachorro, sem indereço nen nada, confiando no genro que ia busca nóis e num apareceu, sentemo num banco da istação amurrinhado e ficamo isperano. Chequei inté fala pra muié, si num aparece ninguém pra busca, nóis tomamo o trem de vorta ué. Demorô uma meia hora o Nardo chegô todo apavorado ponhano curpa na tar linha dônibus. Foi um alivio, passô aquela gastura, fumo finarmente pra casa da fia e foi uma festa que sóveno.
No saubado bem cedinho a fia convidô eu i a mãe dela, minha véia, pra nóis conhece a tar de feira. Moço do céu, que mundaréu de gente naquele luga, atarraquei na mão da muié que é uma songamonga iguá eu memo, com medo dela si perde deu e eu dela e fumo andano daqui pra li, no meio daquele povo e de zóio grudado na fia que ia adiante. E como compram as coisas aquele povaréu, meu Deus do céu! Mais fiquei memo é com dó foi dos vendedô, num sei pruque tanta gritaria daquele jeito, será que o povo num sabe o que vai comprá? Mais fazê o que, é os modos deis num é? Bom, pra incurta o causo, nóis já tava quase de saída, minha fia tava com o tar carrinho da feira lotado, quando passemo perto duns vendedô de frango, parecia inté galinha caipira mais num era não, era os tar frango de granja que a fia falô que lá tem muito. A fia passô direto, lembrei intão que quando ela vem em casa é uma loucura pra come frango, intão decidi ajuda nas compra e comprei um frango pro armoço do dumingo. Ahhh seu moço, se arrepindimento matasse eu teria murrido naquele dia. Na hora de entra nonibus pra vortá pra casa da fia, pois num é que o danado do motorista invocô com nóis:
______ Animar vivo num entra nônibus.
Fiquei avechado, nunca fui barrado em lugar nenhum, será que aqui na capitar, por causa dum frango vivo, vô sê barrado. Achei isquisito aquilo, intão perguntei meio acanhado pro motorista:
______Ué seu motorista, por que num pôde ? _____ i justifiquei prêle: ______ se comprei inda gorinha memo ali na feira, como vô levá intão?.
______ Lei da prefeitura, animar vivo num entra nos coletivos.
Arrespondeu aquele homi com cara de brabo. Fiquei pensano si aquilo era um onibus ou coletivo, sei lá, num entendi direito o que ele quis dizê, mais deixei pra lá, como ele inda falô que é lei, e lei é lei e sei que deve de se arrespeita em quarquê luga , perguntei nus meu direito ué;
______Que queu faço com o frango intão?
O danado do homi, um baita dum negão, riu na minha cara mais num arrespodeu minha pergunta. A fia já tava começano querê te um tróço, pois sô caboclo do istupim curto e ela me conhecia muito bem, num custava nada eu apronta um banzé ali. Sortá o bendito frango é que não ia sortá de jeito nenhum, si comprei é meu e levo de quarqué manera. Foi intão que tive uma idéia pra lá das boa, arredei um pouquinho da porta dônibus, e ali memo, atráis duma arve, cráu..., distronquei o pescoço do bicho que agarrô numa bateção das asas danada, mais dali arguns segundo já tava mortinho de veis. Ai cheguei no motorista e disse:
______ Pronto moço, agora o animar num tá mais vivo,
E fui entrano nônibus. Quiria vê ele trelê comigo, ia aprontá um forfé dos bom ali, pois agora tava dentro das lei, o frango tava morto ué. Mais seu Zé do céu, o homi só oio de rabo de zóio e num falô nada. Mais vô ti conta a mió agora, num é que adepois dessa trabaiera toda, o armoço do dumingo paréci inté que ficô mais gostoso, sô.
Fiquemo uma sumana na casa da fia Filò e fumo muito bem tratado na graça de Deus e de Nosso Sinhô Jesus Cristo, adepois viemo simbora, cheguemo em casa antisdonte”
E assim o caboclo contou a sua estadia em São Paulo, pediu outra dose de cachaça e foi pra casa. Coitado do Chico Paulo, sempre tão zeloso com as coisas do campo, tagarela como ele só, esta foi a primeira e ultima vez que viajou para a Capital, tempos depois a filha se separou do Arnaldo, seu esposo e voltou pra cidadezinha do interior para o pai ajudar a criar os dois netinhos, frutos deste casamento que não deu certo.