GREVE!
Conto de Zé Uóston
Poisé... Depois de mulher, as três coisa que eu mais apreceio na vida, é moda de viola, cerveja gelada, e uma partida de futebó.
Mas, o sinhô credita seu Uilson, que eu nunca joguei bola na minha vida?
Quando eu era menino, la no sertão da Paraíba, a gente só ouvia falá, Futebó qui a gente conhecia, era uma pelada de pião, com bola feita de trapos, e recheada com capim.
Futebó mesmo... Uma partida dessas de time de verdade, com camisa e chuteira... Eu acho que minguém ainda não viu. Jogar então, nem pensá.
Eu até já lhe contei pro sinhô, cumo é qui era a vida da gente... Cuidá do gado do patrão, cuidá da plantação do patrão, i tudo qui a gente fazia, era pra sastifazer o patrão.
A gente que trabalhava de alugado, não tinha rádio, nem eletricidade, luxo qui a gente nem se atrevia sonhá.
Mas então, poisé... Quando eu saí de lá, pra metê a cara no mundo, é qui eu fiquei conhecedô di tanta coisas boa, qui exeste neste mundo. I qui o povo de lá inguinorava. Por inxemplo: cerveja gelada. A gente só via, quando o patrão, i os convidados dele tava bebendo, cheios de sastifaçao.
Nós só ficava olhando e babando. Aquela bebida amarelinha, em copo de vrido, mais uma espuminha branca por de cima. Ah Seu Uilsom, mas dava uma vontade!
Mas quando eu cheguei no estado de Goiás, depois daquele rebuceteio todo qui eu já lhe contei pro sinhô... Pela primeira vez na vda, eu provei cerveja gelada. Gostei foi demais...
O motorista do caminhão que me levou, era um cabra muito camamarada.
Daí ele me perguntou, se eu tinha onde ficá. Eu não tinha, nem conhecia ninguém por lá.
-Então, você não quer trabalhar de chapa?
Eu não sabia o que era chapa. Daí ele me explicô.
-Chapa é o cara que trabalha com o caminhoneiro, pra carregar, ou descarregar o caminhão.
Fiquei trabalhando de chapa, um tempão. O trabalho era pesado, mas, não era o dia inteiro. Só quando chegava caminhão pra descarregar, ou carregar, quando estava pra sair.
Dependendo da dispusição do sujeito, dava pra ganhá um dinheirinho bom.
Si eu lhe contá pro sinhô, vai parecê até mentira. Mas, esse foi o trabalho mais moleza qui eu peguei.
Depois eu aluguei um quarto, qui um outro chapa me indicô pra mim.
O qui eu ganhava dava pra pagá o alugué, i comê numa pensão ali perto, e ainda sobrava pra tomá umas cerveja com us companheiros.
A vida tava era boa...
Eu trabalhava por dinheiro, não mais pela comida, como é ainda lá no sertão.
Agora pro sinhô vê, cumo é qui é a vida. Eu andava contente e sastifeito.
Mas eu, era sozinho. Não tinha mulher nem filho pra sustentá.
Os outros companheiro tinha família, i trabalhava como qui nem bicho pra levá comida pra mulhe i os meninus.
Eu sempre tinha trabalhado de alugado, i o qui ganhava, ficava por lá mesmo, no armazém do patrão. Nunca dava pra pagá as conta das coisa qui a gente precisava pra vivê. Mantimento, fumo, querosena, i as vez uma garrafa de cachaça, promode espantá as tristeza.
Mas então , se assucedeu-se qui a transportadora não queria mais usá o trabalho dos chapa. Por causa de quê, tinha qui pagá na hora, e si não pagava os pessoal ia pra outra transportadora. Daí as transportadoras se combinaram, e arresolveram botá empregado pra não depender mais dos chapa.
Daí a gente fomos todo mundo trabalhá de empregado. Tem uns qui até gostô, por causa de um negócio lá de estabilidade, Outros foi pra estrada, trabalhar por conta própria. Eu fiquei lá mesmo, de empregado.
A gente ganhava menos de empregado, mas, dava pra levá a vida.
Mas poisé. O tempo foi passando, i nada mudava pros empregados.
Daí então que eu comecei a assuntá, qui os patrão da cidade, é igualzinho aos patrão do sertão.
Eles sempre acha que o direito de trabalhadô, é trabalhá, i mais nada.
Quando o desinfiliz resolve tomá uma cerveja depois do trabalho, é logo chamado de vagabundo e cachaceiro.
--Essa cambada só sabe reclamar! Mas quando tem futebol, eles lotam os estádios.
É assim qui eles fala. Mas bem qui eles também gosta de um joguinho de bola, i uma geladas.
A diferença, é qui rico quando enche a cara, ô vai pru estádio , é porque futebol é um esporte populá. Eles só não gosta, quando tem muito povo por lá.
O sinhô me adisculpe de eu está fazendo este arrodeio, mas, o que eu ia falá mesmo foi um caso que se assucesedeu-se lá na tal tranportadora qui eu trabalhava.
Naquela ocasião, todo mundo só falava numa tal de inflação, um negócio tão danado, qui eu não entendia direito o qui era. Eu só sei qui o bicho era de lascá.
Ninguém sabia de onde vinha, ou cumo aparecia. Mas por causa dela os donos das transportadora, aumentava o preço do frete. Por causa do frete, aumentavam o preço do feijão, do arroz, e tudo aumentava.
Só não aumentava era o pagamento dos trabalhadô.
Daí então, os pessoal começô a ficarem desensastifeito e queria aumento de salário.
Veio uns homis lá do Sindicato, e deitaram falação em frente a empresa.
Aquilo pra mim era novidade. Eu nunca tinha visto trabalhadô se ajuntá contra os patrão.
Falava no microfone, e o grito saia bem alto. E o povo repetia umas coisa que eu levei um tempo pra entendê.
Foi quando um companheiro falou pra mim.
-Nós vamos entrar em greve.. Você está com a gente?
- Cumo é qui é esta tal de greve?
- Nós vamos cruzar os braços, e só volta a trabalhar, quando eles aumentarem os nossos salários.
Daí eu falei que sim.
-Ah Seu Uilson! Seu Uilson do céu!
Até hoje eu sinto um currupio aqui de dentro do peito, só de me alembrá.
Os trabalhadô gritando: Greve! Greve! Greve!!!
Os caminhão chegava, e não tinha ninguém pra descarregar as mercadoria.
A coisa começou a esquentar, quando chegou a polícia pra contê os grevista.
Eles ficava na porta qui era pra ninguém entrá.
Como ninguém queria entrá mesmo, eles ficaram lá com cara de besta.
Mas, os patrão queria que os motorista ia descarregar os caminhão.
Daí qui a merda fedeu de verdade.
Pro sinhô vê...
Os donos das transportadora, aumentô o preço do frete, os cliente, aumentô o preço da mercadoria, a dona da pensão, aumentô o preço da comida...
Só a gente qui era trabalhadô... Tô falando dos motorista, ajudante, mais os pessoal qui trabalhava no pesado...
Poisé. A gente não tinha aumento!
Os motorista, mais os ajudantes se recusou a fazer o trabalho da gente.
Então eles se reuniu, e resolveu entrar em greve, também por aumento de salário.
Foi nessa hora qui eu fiquei sabendo, e entendendo umas coisa qui eu já sentia aqui por de dentro. Só não sabia explicá.
É consciência de classe..
Foi Miguelão que me falou aquela coisa, qui eu achei tão bonito qui os pensamento começô fervê na minha cabeça, e foi me dando uma vontade danada de sair pelo mundo, i ajuntá todos os trabalhadô qui era explorado i chamá todo mundo pra fazê uma greve.
No segundo dia da greve, os patrão viu qui os pessoal não ia desisti. Daí mandou um tal de doutô Adevogado pra negociá.
Miguelão, mais Aparício qui era os líder da greve , formou uma tal de comissão.
Aparício pergunto si eu queria participá.
Eu tava era doido pra ir, e fui.
Me alembrei do meu povo qui ficou lá pelo sertão, meu pai, minha mãe...
Eu queria que eles me via naquele hora.
Eu não tava mais de cabeça baixa, olhando pro chão, assim como qui nem gado de corte.
Pela primeira vez na minha vida, com os cornos pra fora, e acima da manada.
Quando a gente cheguemos lá no escritório dos patrão, não foi preciso nem falá nada.
O tal de doutô Adevogado, disse qui já estava tudo arresolvido, i qui eles is dá o aumento qui a gente tava pedindo.
Foi a maió festa quando a gente contô as novidade pros trabalhadô.
Só tinha uma coisa qui tava encafifada na minha cabeça.
Si eles já tinha arresolvido dá o aumento, intão porque a tal de comissão?
Miguelão, apesar de ser um operário, era um homi de leituras, e de muitas sabenças.
-Eles só queriam olhar pra nossa cara.
-Promode?
É pra demitir a gente na primeira oportunidade.
Agora nós somos considerados...
Poisé se Uilson. Ele falou uma coisa qui eu achei importante, só não me alembro o qui era,
...Elemento,,,elemento...
-Elemento subversivo?
Isso mesmo. Eu era elemento subversivo.
Mas, não é pra ficá besta?