A INOCÊNCIA DE IZINHA

Izinha era uma menina bonita, tinha lá seus doze para treze anos, mas criada na roça naqueles tempos, longe das malicias urbanas de hoje, era ainda uma inocente criança, apesar de já estar com um corpinho de menina moça. A mãe sempre zelosa vivia ralhando com a menina, exigindo dela bons modos, pois já era mocinha e precisava se comportar com tal.

A Família era muito respeitada no bairro, ao todo eram quatro irmãos e três irmãs sendo ela a caçula, a raspinha do tacho num linguajar mais popular. Os irmãos mais velhos, as irmãs tinham costume entre eles, coisa que Izinha sem malicia alguma, entendia ao pé da letra, assim toda ajuda que um prestava ao outro sempre vinha o agradecimento com um “Obrigado”, imediatamente vinha a resposta corriqueira entre eles “de nada, quando matar o porco te dou o rabo”. Os pais as vezes ralhava com os filhos ante estas brincadeiras e a mãe sempre os alertava:

________ Ora desta você vão falar isso perto de alguma visita e a coisa não vai ficar bonita.

É bom lembrar que o rabo do porco era uma iguaria muita apreciado na roça, portanto toda vez que se matava um capado no sitio, o rabo do animal era preparado com todo carinho, era frito juntamente com as carnes que iam para a lata com gordura, uma maneira de conservar a carne, pois não existia no sertão a tão conhecida luz elétrica e muito menos o refrigerador ou o freezer, comodidades dos dias de hoje. Era uma festa o dia em que o danado do rabo era pescado da lata, junto com outros pedaços de carne, todo queriam saborear a iguaria que na casa de Izinha, o pai fazia questão de repartir um pedacinho para cada filho, ficando eles de fora da partilha, fazendo valer o ditado pai que é pai de fato, não morre engasgado.

Certo dia apareceu na casa do pai de Isinha um homem, não era um andarilho, pois se trajava bem, roupas engomadas e trazia na mão uma pequena mala, talvez estivesse a caminho para visitar algum parente nos bairros da redondeza, verdade era que ninguém conhecia o dito cujo viajante que bateu palma no terreiro, os cachorro saíram latindo como de costume, a mãe de Isinha ralhou com os bichos e foi ver do que se tratava. O homem a cumprimentou e pediu muito educadamente, sinal de que era uma pessoa de princípios, uma caneca de água para beber.

A mãe ordenou a filha que fosse buscar uma caneca de água para o sedento homem. Ordens dadas, ordens cumpridas, a menina imediatamente adentrou pela porta e instantes depois estava com a caneca de água fresquinha, dirigiu se ao homem, que após matar a sede, devolveu a caneca à menina agradecendo polidamente:

________ Muito Obrigado.

A menina num relance respondeu

________ De nada, quando matar o porco te dou o rabo.

Resposta inocente deixou o viajante corado e rendeu à menina, instantes depois, uma boa surra de varas. Somente após episodio e o conseqüente ataque de histerismo da mãe é que Izinha, orientada pelas irmãs, ficou sabendo o verdadeiro sentido da famigerada frase.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 22/04/2010
Código do texto: T2213125
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