Sabotagem do Besouro
No ano de 63, devido o grande número de obras contratadas com o DNER, fomos obrigados a comprar um pequeno avião, era uma aeronave Cessna 172, triciclo, para quatro passageiros de prefixo PT-BPA Com a aquisição do aviãozinho minhas constantes viagens ficaram mais amenas, naquela época as estradas ainda não eram pavimentadas e semanalmente tinha de me deslocar em direção aos quatro pontos cardeais viajando para Russas - CE, Feira de Santana - BA. etc. etc. em camionetas e/ou jeep’s, em estradas quase que intransitáveis.
Para pilotar a aeronave contratamos um piloto com larga experiência no ramo, por sinal instrutor e mecânico do Aeroclube de Campina Grande, chamado Mário Melo., Devido as minhas constantes viagens, tendo Mário Melo como piloto e instrutor, logo aprendi a pilotar. Nas viagens, logo que decolávamos ele me entregava os comandos e lá íamos nós voando tranquilamente até o nosso destino.
Certa vez decolamos do Aeroporto João Suassuna de Campina Grande, nosso destino a cidade de Mossoró – RN., assim que o aviãozinho ganhou altura , Mário me passou os comandos, era uma tarde de sol sem nuvens, um autentico “Céu de Brigadeiro”, em pouco tempo de vôo estávamos sobrevoando a cidade de Picui - PB. no Curimatú da Paraíba a 4.000 pés de altura, de repente. . .sem maiores explicações o motor do avião para de funcionar, um frio estranho toma conta da minha espinha, a sensação era horrível, aquele silencio mortal, só quebrado pela a entrada de ar na cabine, só escutávamos aquele “Siisssssssss”, rapidamente entrego os comandos ao Mário, ele faz a primeira tentativa para funcionar o motor, acionando o motor a partida, a hélice gira lentamente e vai ganhando velocidade e o motor, nada. . ., faz a segunda tentativa, desta vez embicando o nariz do avião em direção ao solo, como uma flecha a aeronave mergulha num vôo “picado”, mais uma vez a hélice se põe em movimento, agora de encontro ao vento, rodava a toda velocidade, o solo se aproxima rapidamente e o motor, nada, Mário percebe que aquela não seria a solução ideal, puxa o manche suavemente para trás, gradativamente o nariz do avião vai se levantando em direção as nuvens, num meio “looping” bem aberto, como estávamos sobrevoando uma região de serras, pegamos uma corrente de ar ascendente e o aviãozinho passou a ganhar altura rapidamente: 800, 1000, 1300, 1600 pés e lá fomos nós subindo, e eu lá agarrado no “Santo Antônio” morrendo de medo, ou melhor, não era mais medo não, já era pavor. - Mesmo com toda aquela agonia consegui me lembrar de uma história que minha mãe sempre me contava, a coisa era mais ou menos assim: Num dia de feira no interior, um matuto fez o seu primeiro vôo de avião, era um vôo panorâmico que o piloto cobrava R$ 50,00 por pessoa. Após a decolagem o piloto pergunta ao matuto: -Ta vendo sua fazenda ? - Tô sim senhor ! , - Ta vendo o mercado ? - Tô sim senhor !, - Ta vendo a torre da igreja ? - Tô sim senhor, - O senhor parece que ta todo cagado ? - To sim senhor !. - Acho se o Mário me tivesse feitos estas mesmas perguntas eu responderia tal qual o matuto. Já estávamos novamente a 4.000 pés, Mario para quebrar o gelo me pergunta:
- Tá com medo Uchoa ?
- Medo. . .Eu ?
Só mesmo Deus sabia realmente eu estava sentindo. Mário olha em direção a linha do horizonte divisando uma cidade, diz que em menos de dez minutos chegaríamos lá, realmente isto aconteceu, planando como uma garça o aviãozinho contorna a cidade se dirigindo para a cabeceira de um campinho, cheio de mato e alguns jumentos pastando, toca no solo levemente, levantando uma nuvem de poeira, percorre alguns metros até parar completamente, respiramos aliviados.
Mário abre a tampa do motor e inicia as buscas para descobrir o defeito, decorridos alguns minutos, descobre a causa da pane, um besouro do tipo “João de Barro” havia fixado residência num dos suspiros do tanque de combustível, localizados em ambos os lados da asa do avião, com o auxilio de um pedaço de arame, fez uma complicada operação retirando o besouro invasor do suspiro do tanque, com o inseto preso entre os dedos polegar e indicador, passou a esmaga-lo lentamente gritando:
- Besourinho, Besourinho, tu tava querendo puxar o meu tapete, era ? ? ?